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SER ESTELAR




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SER FLORAL




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O MANTO E A COROA DE REGIS





Regis foi escolhido, pela professora e pelos colegas, para representar o rei na apresentação de teatro que haveria na escola.

A professora de Regis entregou, a cada aluno, a fantasia que correspondia ao seu personagem, e Regis, como era de se esperar, recebeu o manto e a coroa.

A peça seria exibida durante uma festa que haveria em um sábado, e a escola estaria aberta para que os familiares e os amigos dos alunos também pudessem participar.

O dia tão esperado finalmente chegou, e Regis estava muito nervoso porque não conseguia encontrar seu manto e sua coroa. Com receio de que chegassem atrasados à festa, a mãe de Regis disse: “Apresse-se, filho! O manto e a coroa estão sobre a cadeira no seu quarto!... Fui eu mesma que os coloquei lá, ontem à noite!... O seu pai já está no carro... Você sabe que ele detesta esperar!... Suba, apanhe a sua fantasia e desça logo!...”.

Regis insistia em dizer: “Mãe, quantas vezes terei que repetir que o manto e a coroa sumiram?!... Se não acredita em mim, suba lá para ver!...”.

Num gesto de impaciência, a mãe de Regis levantou as mãos para o alto antes de exclamar: “Está bem, Regis!... Está bem!... Você é igualzinho ao seu pai!... Sabe que está errado, mas cria caso e quer ter sempre razão!... Vá para o carro que eu mesma subirei para buscar a sua fantasia.”.

Minutos depois, quando a mãe de Regis entrou no carro, ela entregou o manto e a coroa a Regis sem emitir nenhum comentário, porque receava aborrecer o marido. Mas Regis afirmou: “Há algo errado... O manto e a coroa são de verdade!...”.

Regis calou-se quando ouviu o pai dizer: “Chega de histórias!... Mais uma palavra, e não haverá festa para nós.”.

Durante a apresentação da peça, a atenção dos espectadores acabava sempre voltando para a exuberância do manto e da coroa de Regis. O  nosso reizinho, por sua vez, não conseguia desprender os olhos de uma jovem belíssima que estava sentada na plateia, ao lado de um anão.

Regis pensou que estivesse sonhando, porque houve um momento em que tudo ao redor desapareceu, exceto a jovem e o anão, e ele a ouviu dizer: “Guarde o manto e a coroa, Regis, com muito carinho... Daqui a dez anos, nos reencontraremos... Você se tornará o rei da ilha das fadas, e eu serei a rainha.”.

Regis voltou à realidade quando um amigo perguntou baixinho: “Você está bem?!... É a sua vez!...”. Felizmente Regis havia decorado o texto e conseguiu se sair bem. Ele vasculhou a plateia com o olhar, mas não viu mais a jovem e o anão.

Os dez anos ainda não se passaram. Regis guarda até hoje o manto e a coroa em um esconderijo secreto. Ele deseja tornar-se o rei da ilha das fadas, porque a bela jovem, que será a rainha, conquistou o seu coração. 


Texto: Sisi Marques




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O POEMA DE LARABEL


Quem disse que garotinhas
não sabem escrever poemas?!...
Eu tenho sete anos,
e, no meu nome, há sete letras!...

Eu amo as flores e as estrelas!...
Estrelas são flores aladas...
E flores são estrelas plantadas
no campo da minha imaginação!...

A lua é um queijo grande,
que o braço do gigante
não conseguiu alcançar...
O gigante morreu de velhice,
mas a lua ainda está lá!...

As nuvens são feitas de algodão doce...
Elas são leves e me fazem sonhar...
Os sonhos também poderiam ser salgados,
porque eu amo a brisa marinha
e o murmúrio do mar!...



Sisi Marques
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ARLETE E O DUENDE QUE ROUBAVA BOTÕES E RETROSES





Quando Arlete começou a trabalhar na oficina de costura, sua patroa disse: “Espero que você não seja outra ladrazinha!... Se os botões e os retroses começarem a sumir, você irá para a rua como as outras. E não adianta querer me enganar dizendo que aqui existe um duende que rouba os botões e os retroses, porque essa história eu já conheço de cor!... Ladras!... Ladras e mentirosas!... Um duende na minha oficina!... Elas poderiam ter inventado uma história melhor!...”.

Embora Arlete não tivesse gostado do que ouvira, ela precisava do emprego e permaneceu ali enquanto sua patroa saiu para visitar as clientes. Ela separou um retrós de linha vermelha, uma agulha e sete botões também vermelhos. Quando ela terminou de pregar o primeiro botão na blusa, verificou que, em vez de seis, havia apenas quatro sobre a mesa. Intrigada, ela exclamou: “Talvez exista mesmo um duende nesta oficina!...”.

Para espanto de Arlete, o duende materializou-se antes de dizer: “Pode apostar!... O meu nome é Lirineu. Eu cuido dos meus negócios, e você cuida dos seus!...”.

Ele já havia desaparecido quando Arlete disse: “E o meu nome é Arlete. Se você não devolver os botões que roubou, eu farei uma prece!...”.

Permanecendo invisível, o duende soltou uma gargalhada antes de exclamar: “Reze, reze à vontade!... Não tenho medo de orações!... Não roubo, pego emprestado!... E, intenção de devolver, não tenho não!... O meu nome é Lirineu!... Eu cuido dos meus negócios, e você cuida dos seus!...”.

Para convencer o duende a devolver os botões, Arlete mentiu: “O meu nome é Arlete, e eu conheço uma prece que fará com que você fique tão pequeno que conseguirá passar pelo vão da minha agulha!...”.

O duende materializou-se antes de exclamar: “Você está mentindo!... Mentirosa!... Mentirosa!... Se estiver mentindo, ficará com verrugas nessa sua pele rosa!...”.

Instintivamente, Arlete passou a mão no rosto para verificar se havia verrugas, e o duende começou a cantarolar: “Mentirosa!... Mentirosa!... Estamos quites!... Mentirosa!... Mentirosa!...”.

Começando a se impacientar, Arlete exclamou: “Agora, chega de brincadeiras!... Devolva-me os botões e vá cuidar da sua vida!... Se a patroa chegar e verificar que os botões foram roubados, eu serei despedida por sua causa!... É você o ladrãozinho, e não eu!...”. 

Arlete ficou surpresa quando ouviu Lirineu dizer: “Eu não sou ladrão, sou um construtor e preciso de retroses e botões para mobiliar minha árvore. O que eu usarei no lugar dos botões se devolvê-los?!...”.

Arlete pensou e teve uma ideia... Disse: “Se você parar de pegar emprestado os botões e os retroses, quando eu receber, prometo comprar uma grande quantidade de botões e retroses para você mobiliar sua árvore.”.

Lirineu pensou, pensou antes de responder: “Concordo em esperar!... Mas o que eu farei até lá?!... Já sei: posso ajudar você a costurar!...”. Arlete ficou impressionada com a rapidez que as mãozinhas de Lirineu manejavam a agulha.

Quando a patroa de Arlete chegou, também ficou surpresa e satisfeita ao verificar que boa parte do trabalho havia sido feita e, principalmente, que nada estava faltando. Para recompensá-la, ela disse: “Você já pode ir... Pegue este dinheiro... Vamos, pode pegá-lo... Considere-o como um adiantamento. Acredito que nos daremos muito bem.”.

Arlete deixou a oficina e, quando retornou na manhã seguinte, trouxe uma caixa de retroses de linha de diversas cores e botões em vários formatos, para dar de presente ao seu novo amiguinho.



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OS LIVROS E OS ANIMAIS DE LEITURINA


“Letras soltas não dizem nada!... Letras juntinhas formam palavras!... Palavras reunidas formam frases!... E as frases, costuradas pela imaginação, formam histórias!... Jogo minhas histórias no caldeirão!... Dentro dele, há uma poção que dá voz às páginas!... Páginas que leem histórias!... Eu sou demais!... Ninguém conseguirá resistir aos meus livros que falam!...”.

A bruxa Leiturina passou o dia todo confeccionando os livros que pretendia vender. Na manhã seguinte, lá estava ela na porta da escola oferecendo os livros para as crianças.

Um garoto perguntou: “É de graça?!...”. Leiturina exclamou: “Menino atrevido!... De graça?!...  Você leva o meu livro, e eu não ganho nada?!...”. E o garoto, com os olhinhos colados na capa de um dos livros, explicou: “Eu compraria o livro, se tivesse dinheiro. Posso ficar com ele e pagar depois?!...”.

Leiturina respondeu: “Não. Sem dinheiro, não há conversa!...”. O garoto não insistiu... Lançou mais um olhar para o livro e já estava se afastando quando ouviu a bruxa chamá-lo: “Menino!... Volte aqui e leve o livro. Para você, eu farei um desconto bem vantajoso, e você não terá que pagar nada. Pegue logo o livro antes que eu mude de ideia!...”.

Quando os amigos do garoto viram que ele tinha ganhado um livro, perguntaram a Leiturina: “Os livros são de graça?!...”. Leiturina exclamou: “Meninos atrevidos!... De graça?!... Vocês levam os meus livros, e eu não ganho nada?!... Saiam já daqui e tirem os olhos dos meus livros!...”.

Os garotos obedeceram e já estavam entrando na escola quando ouviram a bruxa chamá-los: “Meninos!... Voltem aqui e levem os livros. Para vocês, eu também farei um desconto bem vantajoso, e vocês não terão que pagar nada. Peguem logo os livros antes que eu mude de ideia!... Vamos logo, porque eu não tenho o dia todo!... Ainda preciso dar banho nos meus bichinhos de estimação!...”.

Leiturina se sentiu agradecida quando ouviu um dos garotos dizer: “Sabemos onde você mora e já vimos o seu elefante, a sua cobra, o seu tigre, a sua águia e o seu jacaré no quintal. Mas nunca nos aproximamos da sua casa, porque acreditávamos que você fosse má. Se você quiser, podemos ajudá-la a dar banho neles depois que sairmos da escola.”.

Horas depois, os garotos foram à casa de Leiturina para ajudá-la a dar banho em seus animais de estimação. Eles ficaram boquiabertos ao ver que, além do elefante, da cobra, do tigre, da águia e do jacaré, também havia três corvos e um filhote de dragão!...



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OS ANJOS DESPEJARAM BALDES DE TINTA





Você já viu uma chuva colorida cair do céu?!... Eu já vi. Lá onde eu moro, as nuvens se abriram, e os anjos despejaram baldes de tinta...

Antes, não havia cores... Tudo era triste e sombrio... O sol não brilhava, e eu sempre tinha a sensação de que uma tempestade iria desabar...

Mas, a partir do dia em que a chuva colorida emprestou suas cores a tudo o que havia, a esperança e a alegria se mudaram para lá.



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ADELFO, PANDA E A FADA FLORBEL





O sono de Panda seria eterno se Adelfo não conseguisse convencer a fada Florbel a despertá-lo.

Adelfo era um elfo muito parecido com os humanos... Ele só se diferenciava por suas orelhas pontudas e por sua pele dourada. Ele era o guardião da floresta e precisava libertar Panda daquele sono profundo.

Um dos gnomos contou-lhe que ouviu a fada Florbel dizer: “Aquele urso trapalhão pisou novamente nas minhas flores!... Se falar não resolve, melhor será colocá-lo para dormir!...”.

Quando Adelfo conseguiu localizar Florbel, ele ordenou: “Liberte Panda do feitiço. Ele é nosso amigo!... O que pensa que está fazendo?!..”. Ela respondeu: “O que eu já deveria ter feito há muito tempo!... Não é porque sou do tamanho de uma borboleta que vou permitir que aquele urso trapalhão destrua o meu jardim!... Desista, porque você não conseguirá me convencer a despertá-lo!...”.

Adelfo pensou, pensou e, de repente, ele se lembrou de um pedido que Florbel havia feito há alguns meses. Adocicando a voz, ele perguntou: “Você não irá acordá-lo nem mesmo se eu construir aquele castelo que você me pediu, com um jardim em volta e uma cerca ao redor dele para que suas flores fiquem protegidas?!...”.

Percebendo que suas palavras despertavam o interesse de Florbel, Adelfo acrescentou: “Se você deseja que eu construa o castelo, acorde Panda!... Com a ajuda dele, o castelo ficará pronto em três dias no máximo!...”.

A fadinha perguntou: “E o castelo ficará tão grande quanto o da rainha?!... Você terá que descer à mina para buscar ouro e pedras preciosas!... Quanto ao urso trapalhão, continuará dormindo até que o meu castelo fique pronto. Eu não me importo de esperar alguns dias a mais. E não me olhe desse jeito!... Eu não sou má, e sei que Panda ficará bem.”.

Duas semanas se passaram até que o castelo ficasse do agrado de Florbel. Felicíssima com a exuberância de sua nova moradia, ela libertou Panda daquele sono profundo.

Quando Panda despertou, ele não se lembrava de ter dormido durante tanto tempo. Mas, apesar disso, a intuição o aconselhava a manter-se longe do castelo de Florbel.


Texto: Sisi Marques

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SAMUEL E A PENA ENCANTADA




Era uma vez um rei muito mau. Ele não gostava de seres mágicos, e ordenava que eles fossem aprisionados na gruta escura.

A gruta escura era um lugar encantado. Quem lá entrasse, perdia seus poderes mágicos e ficava percorrendo sempre o mesmo caminho, sem conseguir localizar a saída. Temerosos de ficarem perdidos naquele labirinto, os duendes, os gnomos, os elfos, as fadas e até mesmo as bruxas se afastaram daquele reino. Mas a distância era apenas física, porque o pensamento deles se mantinha preso à desventura dos amiguinhos capturados.

Certo dia, o inesperado aconteceu... Samuel, um contador de histórias, ignorando todos os conselhos e advertências dos amigos, resolveu fazer uma visita àquele reino voltado exclusivamente para esta realidade.

Embora Samuel fosse um sonhador, ele não tinha o pensamento ancorado nas nuvens!... Ele acreditava na magia, e os seus sonhos eram luminosos, dourados e tangíveis. Ele amava a fantasia porque ela emprestava suas cores alegres a esta realidade sombria.

Por mais que os amigos de Samuel, ao vê-lo partir, e os habitantes daquele reino, onde ele se instalara, dissessem que ele era louco em desafiar o rei, ele permanecia tranquilo, com um sorriso sereno iluminando sua personalidade cativante.

O próprio rei, em outras circunstâncias, teria sentido admiração e respeito por Samuel. Mas como ele poderia convidar para morar em seu castelo e colocar sob sua proteção um homem que contrariava suas ordens e proibições?!... Não!... A realidade era a rainha suprema daquele reino, e a fantasia precisava ser pisoteada e banida!... Quanto a Samuel, o rei jurou que ele teria o fim que merecia: faria companhia aos seres que tanto amava, na gruta escura.

Ser aprisionado na gruta escura não era o fim que Samuel merecia, mas era certamente a oportunidade que ele desejava. Dois anos antes, ele havia entrado em uma loja de livros usados, para renovar o seu repertório, e encontrou uma pena dentro de um dos livros que adquiriu. Nesse livro, havia uma história sobre o príncipe da terra da fantasia. De posse de uma pena encantada, ele libertou os seres mágicos da opressão de um rei que condenava a magia.

Samuel não perderia por nada a oportunidade de verificar se a pena era mesmo encantada. Quando ele entrou na gruta escura, contou aos serezinhos que possuía a pena e que os libertaria. Embora eles estivessem muito tristes, ainda conseguiram rir da desgraça, e um deles exclamou: “Tolo!... Você não deve acreditar em tudo o que lê!... Nós existimos, mas nem tudo o que dizem sobre nós é verdadeiro!... Se nós, que possuíamos poderes mágicos, ficamos presos nesta armadilha, como você e essa sua pena poderiam nos libertar?!...  Procure um lugar para esperar a morte e mantenha a boca fechada!... Você ainda tem sorte de ser mortal!... Para nós, esta prisão será eterna!...”.

Em meio àquela escuridão, Samuel não conseguia ver os seres que se reuniam ao seu redor. De nada adiantaria rebater o que um deles dissera!... Ele teria que agir e provar que a pena era mesmo encantada!... 

Ele retirou a pena do bolso da camisa, fechou os olhos e concentrou toda a sua energia no desejo de que a história que ele tinha lido fosse real, de que a pena fosse encantada, e de que, após se tornar o príncipe da terra da fantasia, teria permissão para viver ao lado daquelas criaturas mágicas. Era esse o grande sonho de Samuel: pertencer a uma realidade mágica!...

E a magia que a pena guardara durante séculos começou a funcionar... O brilho, no início tímido, aos poucos foi se intensificando e só se extinguiu depois que todos os seres haviam recuperado seus poderes mágicos. O encantamento da gruta escura tinha sido desfeito... Os raios do sol iluminavam e revelavam a saída. Os seres mágicos sorriam e endereçavam olhares de agradecimento a Samuel.

O coração de Samuel também estava em festa!... Ele se sentia responsável pelo destino daquelas criaturinhas tão frágeis e, ao mesmo tempo, tão poderosas!... Após a coroação, uma fada entregou a Samuel um cálice que continha a água da fonte da juventude. Ele agradeceu sorrindo e bebeu o líquido que o tornaria imortal.



Texto: Sisi Marques


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RÓTULOS NÃO REVELAM A VERDADEIRA ESSÊNCIA





Você deve estar se perguntando quem sou eu!... Uma bruxa naturalmente!... Você não reparou na minha varinha e na minha vassoura?!... Elas são mágicas!... Era só o que me faltava: aí está mais uma pessoa que não acredita que uma bruxa possa ser bela e bondosa!...
                                                                           
Os moradores da vila onde eu morava também não acreditavam nisso, e eu tive que fugir para a floresta. A fada Cristalina conseguiu convencer a todos de que eu era má e poderia escravizar as crianças.

Um ano se passou antes que os pais das crianças, aflitos, viessem me procurar. Eu demorei alguns minutos para compreender o que havia acontecido, porque todos falavam ao mesmo tempo. Segundo eles, a fada Cristalina mentira sobre mim e sugerira que me expulsassem, para que ela pudesse ter o caminho livre para conduzir as crianças ao país das fadas. Ela desejava ser a rainha e, quanto mais seguidores ela tivesse, maiores seriam as chances de ela conseguir ocupar o trono. Ela sabia que a minha magia era poderosa e que somente eu poderia detê-la.

Eu respondi: “O que está feito está feito e não poderá ser desfeito.”. Mas os pais das crianças apressaram-se em mostrar a solução: Eu também me apresentaria no país das fadas como uma candidata ao trono, e eles reuniriam o maior número de pessoas que conseguissem para serem meus seguidores.

Com receio de ser fulminada quando atravessasse o portal que conduz ao país das fadas, exclamei: “Esqueçam!... Eu adoro a cor dos meus cabelos e não quero ficar toda chamuscada!... Se uma bruxa não tem permissão para entrar no país das fadas, como poderei concorrer ao trono?!... Esqueçam!!!... O que está feito está feito e não poderá ser desfeito.”.

Eles ficaram muito decepcionados com a minha recusa, e o meu coração se desfez em pedacinhos!... Eu não desejava parecer egoísta!... Eu precisava ajudá-los a trazer as crianças de volta. Contrariando a minha própria vontade, eu disse: “Está certo!... Está certo!... Pior do que eu me tornar a rainha das fadas é o destino que essas crianças terão longe de seus familiares. Reúnam seus parentes e amigos para que possamos fazer uma visitinha à fada Cristalina ainda hoje.”.

Felizmente o meu receio de ficar chamuscada era infundado. Quando chegamos, a fada Cristalina perdeu o trono para mim porque, além de eu ter mais seguidores, quando as crianças viram seus pais, elas se libertaram do feitiço da obediência, que a fada Cristalina havia lançado sobre elas.

Até hoje eu, Estelina, ainda sou a rainha das fadas. Você deve estar se perguntando como uma bruxa pôde se tornar a rainha das fadas!... A fada Cristalina era muito mais bonita do que eu, mas beleza nada tem a ver com bondade. Além disso, “bruxa” é apenas um rótulo, e rótulos não revelam a verdadeira essência.”.



Texto: Sisi Marques


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COMO GANHEI MINHAS ASAS





Você gostou das minhas asas?!... Elas são lindas, não são?!... Mas houve uma época em que eu ainda não possuía asas. Deixe-me contar-lhe como ganhei minhas asas e, também, como elas se tornaram tão belas!...

Desde que despertei para esta realidade, eu sempre tive esta aparência, mas eu ainda não tinha um nome!... Você deve imaginar como eu me sentia: uma fada sem nome e sem asas!... Confesso que sentia inveja das outras fadas: delicadas, ágeis e eficientes!...

A minha vida começou a mudar no dia em que vi uma garota chorando. Embora ela não me visse, ela conseguia me ouvir. Ela deve ter imaginado que eu fosse sua intuição, porque eu comecei a falar e, em pensamento, ela me dizia o que eu precisava saber.

Eu acabei descobrindo que Flávia estava triste porque sentia saudade de Leandro, o amigo que teve que se mudar com a família. Ela estava preocupada e receava que ele a esquecesse. Dentro das minhas habilidades tão limitadas, eu só poderia conversar com ela e emitir boas vibrações. Foi nesse momento que eu descobri o meu nome: Esperança.

Era exatamente isso o que eu deveria transmitir: esperança!... Eu fiquei satisfeita quando Flávia parou de chorar e ensaiou um sorriso. Eu desejava poder fazer mais por ela, mas o que uma fada sem asas poderia fazer?!... Fiquei assustada e feliz quando, de repente, um par de asas instalou-se nas minhas costas!...

Qualquer fada, que me visse com aquelas asas transparentes, olharia para mim com ar de desdém!... Mas elas eram minhas!... E voavam!... Eu precisava encontrar Leandro!... Precisava dizer a ele que Flávia o amava e temia que ele a esquecesse.

Voei, voei e continuei voando até conseguir localizar Leandro. Era como eu suspeitava: o coração dele estava ausente, porque não saíra um minuto sequer do lado de Flávia... Eu pousei em seu ombro e sussurrei em seu ouvido: “Flávia está apaixonada por você e receia que você a esqueça. Volte, Leandro!... Você precisa encontrar um modo de voltar!...”.

Leandro era ainda mais receptivo do que Flávia, e eu me surpreendi quando o ouvi murmurar: “Flávia!... Flávia!... Que saudade, Flávia!... Eu preciso encontrar um modo de voltar!...”.

Eu permaneci ao lado de Leandro durante meses, porque ele sofria ainda mais do que Flávia. Ele insistia com os pais para que eles voltassem a morar na mesma casa, mas a casa não estava mais disponível. Eu não sabia mais o que fazer e decidi voltar para o lado de Flávia.

A garota ainda acalentava o desejo de que Leandro retornasse. Havia uma casa para alugar ao lado da casa onde ela morava, e Flávia ficava imaginando seu amigo entrando e saindo da casa. Ela até mesmo o via acenando da janela.

Eu precisava fazer algo para ajudá-los e voltei para contar a Leandro sobre a casa. Intuitivamente ele abraçou a ideia, e os pais dele ficaram surpresos quando verificaram que realmente havia uma casa que eles poderiam alugar.

Quando Flávia e Leandro se reencontraram, eu senti uma alegria imensa, e a felicidade que brilhava esplendorosamente nos olhos de Flávia coloriu as minhas asas!...

Quando você sentir o ânimo renovado pelo calor da esperança, lembre-se de mim. É bem provável que eu esteja pousada no seu ombro, sussurrando as palavras que apenas o seu coração conseguirá ouvir.




Texto: Sisi Marques

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ALOÍSIO E OS HABITANTES DO BOSQUE DAS MARGARIDAS





Aloísio, todas as manhãs, levantava cedinho e ia ao mercado para abastecer sua velha carroça com verduras, frutas e legumes. Depois, passava o dia inteirinho visitando seus fregueses. Muitos deles moravam longe da vila, e Aloísio precisava percorrer a longa estrada de terra para atendê-los.

Em uma dessas viagens, Aloísio se compadeceu de uma velha senhora que caminhava sozinha pela estrada poeirenta. Atenciosamente, ele parou a carroça e ofereceu-se para levá-la aonde ela precisava ir. Eis o que a estranha senhora respondeu: “Eu não preciso da ajuda de ninguém para chegar ao meu destino, pois sei muito bem aonde quero chegar. Mas você, Aloísio, precisará da ajuda de gente miúda para encontrar a sua prosperidade.”.

Confuso, Aluísio perguntou: “Como sabe o meu nome?!...”. E a velhinha, que já havia começado a se afastar, disse: “Há cogumelos gigantescos no Bosque das Margaridas!... Ninguém reparou neles, porque eles não servem para comer e não têm a cor do ouro. Talvez apenas os puros de coração consigam vê-los... O seu coração é puro, Aloísio Verdureiro?!...”.

Aborrecido, Aloísio seguiu em frente com a carroça!... Não prestaria atenção às palavras daquela mulher que parecia maluca!... Entretanto, uma coisa era certa: Ele se lembrava de ter visto os tais cogumelos quando ainda era garoto; mas, depois que cresceu e começou a trabalhar, nunca mais teve tempo de retornar ao Bosque das Margaridas. Aloísio balançou a cabeça e voltou a se concentrar nas entregas que ainda teria que fazer. Quando voltou para casa, já havia anoitecido.

Na manhã seguinte, ele estacionou a carroça na frente do mercado, mas não desceu porque se preocupou com a agitação dos cavalos. Eles pareciam ver algo que ele não conseguia ver. Mas ele desviou a atenção quando olhou para trás para ver quem havia dito: “Compre tomates, muitos tomates!!!... Tomates redondos, cheirosos e bem vermelhinhos!!!... Adoramos tomates!!!...”.

Não conseguindo acreditar no que os seus olhos viam, Aluísio balbuciou: “Quem é você, e quem são eles?!...”. Estufando o peito e endireitando o corpo para parecer maior, o homenzinho respondeu: “Os grandalhões como você costumavam nos chamar de ‘gente miúda’, mas atualmente ninguém mais consegue nos ver. A propósito, é impressão minha ou você consegue mesmo me ver e ouvir?!... Se a resposta for sim, me diga por que ainda não foi buscar os tomates!... Vá logo porque temos uma troca a fazer: você compra dezessete tomates, e nós encheremos a sua carroça de legumes, frutas e verduras!... Dezessete!... Lembre-se: você tem que trazer dezessete tomates, porque cada um de nós tem uma família para sustentar.”.

Aloísio não questionou a ordem... Desceu da carroça, entrou no mercado e voltou com dezoito tomates. Aloísio também gostava de tomates e, naturalmente, um dos tomates era para ele. Quando ele olhou para dentro da carroça, surpreendeu-se ao ver os homenzinhos dançando e cantando canções em um idioma que ele desconhecia.

Aloísio teve que levar os homenzinhos de volta ao Bosque das Margaridas, porque a magia deles não seria suficiente para transportar também os tomates. Ele ficou encantado ao ver as casinhas, ou melhor, os cogumelos onde os homenzinhos moravam. E surpreendeu-se quando ouviu uma das crianças dizer: “A natureza é sábia. Conseguimos produzir tudo, menos tomates. E é de tomates que mais gostamos. Se soubéssemos cultivar tomates, acreditaríamos que somos autossuficientes e não precisamos de ninguém. Mas sempre tivemos a necessidade de que alguém nos trouxesse os tomates, e essa necessidade garantiu que não nos afastássemos completamente dos seres humanos.”.

Aquele foi o início de uma duradoura amizade que beneficiou a todos... Aloísio visitava os homenzinhos diariamente, para levar-lhes os tomates e abastecer sua carroça com verduras, frutas e legumes. Ele logo se tornou um comerciante próspero. Com a ajuda dos homenzinhos, ele abriu o seu próprio mercado, contratou empregados e passou a ter mais tempo para divertir-se na companhia de seus amiguinhos.



Texto: Sisi Marques

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JOAQUIM E O LADRÃO DE MELANCIAS




Era sempre a mesma história!... E Joaquim já estava começando a perder a paciência!... Ele adorava comer melancias; mas, quando as comprava, elas simplesmente desapareciam.

Na última vez em que elas foram roubadas, ele ouviu um barulho na cozinha e correu, porque tinha a certeza de que lá estava o ladrãozinho!... Joaquim não se enganara!... A porta estava aberta, e ele viu um homem baixinho, de orelhas pontudas, fugindo com as melancias embaixo dos braços.

Acreditando ser mais esperto do que o estranho sujeito, Joaquim, na manhã seguinte, comprou mais duas melancias e devorou-as. Sobraram apenas as cascas, que ele havia partido ao meio com todo o cuidado, para depois poder uni-las novamente.

Quando a noite chegou, Joaquim escondeu-se no quintal, atrás de uma árvore. Pouco tempo depois, um vulto ligeiro pulava o muro, atravessava o quintal e abria a porta da cozinha. Joaquim pensou em correr para apanhar o ladrão; mas, como se estivesse enfeitiçado, o seu corpo não obedecia ao seu comando, porque os seus pés pareciam estar colados na terra.

Felizmente, o desespero de Joaquim durou apenas alguns minutos... Foi só ele ver o homem baixinho, de orelhas pontudas, deixar a cozinha, atravessar o quintal e fugir pulando o muro, ele conseguiu recuperar os movimentos. 

Joaquim entrou em casa com a lembrança daquele estranho ser assombrando sua mente!... Ele se perguntava o que poderia fazer para livrar-se do infeliz que roubara até as cascas!!!... Sentindo-se deserdado da sorte, ele se preparava para esmurrar a mesa quando os seus olhos esbarraram em uma folha de papel cuidadosamente dobrada. No momento em que ele apanhou o papel para ler a mensagem, uma moeda de ouro caiu sobre a mesa. O bilhete dizia: “Obrigado. Nas outras vezes, eu não retribuí o favor, porque tive o trabalho de limpar as cascas para guardar o meu ouro.”

Você deve estar se perguntando se o homem baixinho, de orelhas pontudas, voltou à casa de Joaquim para buscar mais cascas de melancia. A resposta é sim!... E ele sempre deixava uma moeda de ouro quando encontrava as cascas limpas.



Texto: Sisi Marques