Quem já teve um amigo
invisível não ficará surpreso com esta história. O meu nome é Rafael. Tenho
vinte e três anos, e os meus pais ainda me chamam de Rafinha e me tratam como
se eu fosse uma criança que necessitasse do carinho e da atenção deles o tempo
todo.
Talvez eles se sintam
culpados porque, esse carinho e essa atenção desmesurados, eles não puderam me
ofertar quando eu era criança. Eles ficavam muito tristes, e eu chorava ao
observar, da janela, o carro se afastando. Embora eu já compreendesse que eles tinham que
se ausentar para garantir o nosso sustento e o nosso conforto, eu sempre imaginava
que fosse morrer de saudade.
Saudade!... Eu sentia
uma saudade imensa, mas depois eu me distraía com as histórias que a babá
contava, e a minha sede de fantasia tornava a saudade menos amarga. Certo dia,
a babá comentou: “Rafinha, você é triste porque não tem um cachorro. O seu
aniversário será no sábado, e eu lhe darei o Bolinha de presente. Ele é alegre e
brincalhão!...".
Eu temia que os meus
pais recusassem o presente, mas, para a minha felicidade, eles também se
alegraram com a chegada do filhotinho. Felicidade!... Felicidade que o tempo
transformou em saudade!... O tempo modifica os sentimentos, mas não consegue
apagar as lembranças.
Lembranças!... Eu ainda
me lembro de que, para o meu espanto, Bolinha não entrou em casa sozinho. No
início, pensei que ele tivesse trazido um fantasma para morar conosco. Mas, com
o tempo, aprendi a gostar do amigo de Bolinha, e ele se tornou também meu amigo.
Um amigo inesquecível que partiu quando Bolinha morreu.
Poderá parecer estranho
o que vou dizer, mas posso escrever o que eu quiser porque os meus pais respeitam
a minha privacidade e não leem o meu diário. A minha afeição por Bolinha
transformou-se em saudade, mas a minha amizade pelo garotinho de rosto
redondo e faces rosadas, que era invisível aos olhos dos meus pais, assemelha-se a uma lembrança viva. Hoje mesmo,
quando acordei, eu poderia jurar que o ouvi dizer: “Olá!...”.
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