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O SEGREDO DE MARILUNA


Mariluna é o nome da adorável contadora de histórias que guarda um precioso segredo. Quando criança, ela sempre brincou de criar situações de faz-de-conta manipulando objetos. Ela passava horas no quarto de sua mãe, sentada em frente à penteadeira, usando os vidros de esmalte e de perfume e os potes de creme como se fossem personagens das histórias que ela inventava.

Quem observasse Mariluna brincando, diria que ela gostava muito de falar sozinha. Mas, na verdade, Mariluna  nunca brincou sozinha. Ela conversava com o seu amigo invisível e era para ele que ela contava as histórias, que floresciam em sua imaginação. Ela não tinha coragem de dizer que um urso lhe fazia companhia e apreciava a sua contação de histórias. Ela não compreendia por que ninguém mais conseguia vê-lo, se ele parecia tão real!...

Atualmente ela usa o repertório que teceu na infância para criar o seu próprio estilo de contação de histórias e tem doces lembranças daquele tempo. Mas, a parte melhor desta história, eu ainda não contei: Mariluna, em todas as suas apresentações, reserva uma cadeira que, para os olhares curiosos dos espectadores, permanece sempre vazia. Apenas Mariluna consegue ver o urso, com os olhos atentos e brilhantes, sentado na cadeira reservada, ouvindo suas histórias.



Texto: Mayra BarrosSisi Marques




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A BRUXINHA SERELINA, A DONA ARANHA E O MAGO FANTASMA








Enquanto, em seu laboratório, a Bruxinha Serelina preparava a poção que faria o Gato Serelepe perder o medo de voar, ela prestava atenção ao que a Dona Aranha dizia: “Não consegui dormir novamente!... O Mago Fantasma dorme durante o dia e, depois, passa a noite toda andando pelo castelo. Ele acende as velas, grita e não deixa ninguém dormir!... Qual é o problema dele?!...”.



A Bruxinha Serelina exclamou: “Eu pensei que você soubesse!... Ele tem medo dos ratos que encontra em suas caminhadas noturnas!... E o pior de tudo é que eles adoram assustá-lo!... O Rato Gorducho quase desmaia de tanto rir quando conta sobre as peças que ele e os amigos pregam no pobre Mago Fantasma!... Eles fazem isso para se vingarem dos maus-tratos que sofriam no tempo em que o Mago ainda era vivo.”

A Dona Aranha comentou amuada: “Aqueles ratos são teimosos!... Se depender deles, o problema nunca terá solução. Eu preciso cochilar mais durante o dia porque, à noite, não conseguirei mesmo dormir!...”.

A Bruxinha Serelina já não estava mais prestando atenção ao que a Dona Aranha dizia, porque precisava se concentrar no preparo da poção que faria o Gato Serelepe perder o medo de voar.

Eu estaria mentindo se dissesse a você que a Dona Aranha estava enganada. Os ratos realmente eram teimosos, e ainda estariam assustando o Mago Fantasma até hoje, se ele não tivesse se mudado para outro castelo. Eu ouvi dizer que atualmente é ele quem assusta o Gato Medroso. Você deve estar se perguntando quem é o Gato Medroso. Eu também não sei!... Eu imagino que ele seja o gato do dono ou da dona do castelo. Eu conheço apenas o Gato Serelepe!... E acreditem: Algumas coisas nunca mudam!... A Bruxinha Serelina ainda não conseguiu preparar a poção que faria o Gato Serelepe perder o medo de voar. Ela se distrai e erra a quantidade dos ingredientes, porque fica ouvindo aquela tagarela da Dona Aranha reclamar que o castelo ficou muito triste e silencioso depois que o Mago Fantasma partiu.

Você deve estar se perguntando quem é o narrador desta história. Sou eu: o Rato Gorducho!... Infelizmente eu sou obrigado a concordar com a Dona Aranha: "O castelo ficou muito triste e silencioso depois que o Mago Fantasma partiu!...". E, para não morrer de tédio, eu arrumei um passatempo: comecei a escrever.















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RAFAEL E SEUS DOIS AMIGOS


Quem já teve um amigo invisível não ficará surpreso com esta história. O meu nome é Rafael. Tenho vinte e três anos, e os meus pais ainda me chamam de Rafinha e me tratam como se eu fosse uma criança que necessitasse do carinho e da atenção deles o tempo todo.

Talvez eles se sintam culpados porque, esse carinho e essa atenção desmesurados, eles não puderam me ofertar quando eu era criança. Eles ficavam muito tristes, e eu chorava ao observar, da janela, o carro se afastando.  Embora eu já compreendesse que eles tinham que se ausentar para garantir o nosso sustento e o nosso conforto, eu sempre imaginava que fosse morrer de saudade.

Saudade!... Eu sentia uma saudade imensa, mas depois eu me distraía com as histórias que a babá contava, e a minha sede de fantasia tornava a saudade menos amarga. Certo dia, a babá comentou: “Rafinha, você é triste porque não tem um cachorro. O seu aniversário será no sábado, e eu lhe darei o Bolinha de presente. Ele é alegre e brincalhão!...".

Eu temia que os meus pais recusassem o presente, mas, para a minha felicidade, eles também se alegraram com a chegada do filhotinho. Felicidade!... Felicidade que o tempo transformou em saudade!... O tempo modifica os sentimentos, mas não consegue apagar as lembranças.

Lembranças!... Eu ainda me lembro de que, para o meu espanto, Bolinha não entrou em casa sozinho. No início, pensei que ele tivesse trazido um fantasma para morar conosco. Mas, com o tempo, aprendi a gostar do amigo de Bolinha, e ele se tornou também meu amigo. Um amigo inesquecível que partiu quando Bolinha morreu.

Poderá parecer estranho o que vou dizer, mas posso escrever o que eu quiser porque os meus pais respeitam a minha privacidade e não leem o meu diário. A minha afeição por Bolinha transformou-se em saudade, mas a minha amizade pelo garotinho de rosto redondo e faces rosadas, que era invisível aos olhos dos meus pais, assemelha-se a uma lembrança viva. Hoje mesmo, quando acordei, eu poderia jurar que o ouvi dizer: “Olá!...”.










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ANA BEATRIZ E A CANÇÃO SOBRE AS FLORES


Ana Beatriz era uma garotinha que amava as árvores e as flores. Ela adorava passar as tardes no parque, brincando com o seu cachorrinho. Ela costumava dizer a ele que as árvores sorriam e, para explicar-lhe o nascimento das flores, ela cantava uma canção:

“As pétalas das flores quando caem
não morrem, não morrem não!...
Elas são tão belas que a natureza as preserva.
Quando anoitece, do céu, um homenzinho desce...
E, com sua vassoura, ele varre as pétalas
para dentro da forma que molda as flores.
As pétalas das flores quando caem
não morrem, não morrem não!...”.







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LUAN E A ÁRVORE DOS SONHOS


Luan era o nome do jardineiro do rei Clementino. Ele passava horas e horas cuidando daquele jardim imenso. Enquanto as suas mãos alisavam a terra, o seu coração ganhava asas e voava até a janela do quarto da princesa Estela.

A atenção de Luan só não se distanciava quando ele cuidava de uma árvore que ele acreditava ser a Árvore dos Sonhos. Se ela fosse bem cuidada, daria frutos coloridos e reluzentes. Segundo a história que ele leu em um livro de contos de fada, a pessoa que colhesse um desses frutos conseguiria realizar todos os seus sonhos.

Em uma manhã ensolarada, o milagre aconteceu!... Quando os moradores do castelo despertaram, dirigiram-se ao jardim para contemplarem e colherem os frutos daquela árvore esplendorosa!... Naquela mesma manhã, todos os trabalhadores do castelo foram proibidos de colocarem os pés no jardim. Luan, sozinho em seu quarto, chorou copiosamente.

Horas depois, Luan ainda chorava, mas agora estava abraçado à árvore sem frutos. Ele pensou em partir. De que adiantaria ele continuar trabalhando no castelo se jamais conseguiria realizar o seu sonho de casar-se com a princesa?!... Ele se despediu da árvore e entrou no castelo apenas para recolher os seus pertences. Ele tencionava sair sem se despedir de ninguém, mas um guarda o deteve e o conduziu à presença do rei Clementino.

Temeroso, confuso e embaraçado, ele esvaziou a sacola na frente do rei enquanto dizia: “Majestade, eu pretendia partir levando apenas o que me pertence. Eu não tencionava roubá-lo e fugir como um ladrão. Peço-lhe, humildemente, permissão para deixar o castelo.”.

Os olhos de Luan brilharam mais do que os frutos da Árvore dos Sonhos quando ele ouviu o rei Clementino dizer: “Você se engana quando diz que não roubou o que me pertence. Hoje minha filha, segurando um daqueles frutos brilhantes, encorajou-se a confessar que está apaixonada por você. Como posso deixá-lo partir, se estará levando metade do coração do meu maior tesouro?!... Você deseja se casar com a princesa Estela?”.

Luan chorou e quase desmaiou de alegria. Foi apenas depois de alguns minutos que ele conseguiu dizer: “Sim, sim, sim, Majestade!!!... Eu me apaixonei pela princesa desde o primeiro instante em que a vi. Nada me faria mais feliz do que ter o consentimento de Vossa Majestade para casar-me com Estela.”.







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O GUARDIÃO DAS ÁRVORES E A FADA DA ÁGUA






Houve uma época em que o guardião das árvores ficou muito preocupado, porque não chovia. As folhas estavam secas, e o chão ressequido. As flores haviam desaparecido completamente. Ele sentia que precisava fazer algo e foi pedir ajuda aos animaizinhos da floresta.

Confiando na intuição de um pássaro que sugeriu que ele conversasse com a fada da água, o guardião das árvores viajou pelos quatro cantos do mundo e foi encontrar a fada da água em um lugar paradisíaco, sentada nas pedras, contemplando uma esplendorosa cachoeira. Sem perder tempo, ele pediu humildemente que ela ordenasse às nuvens que regassem o planeta. Eis o que a fada da água respondeu: “Você protege as árvores, e eu protejo a água. Não concorda que os homens precisam receber uma lição para aprenderem a valorizar as dádivas da natureza?!... Apenas a água deste meu refúgio não está poluída!...”.





A fada da água não ficou surpresa quando o guardião das árvores respondeu: “As árvores e os animais também sofrem com a ação devastadora do homem. Se você continuar lhes negando o líquido precioso, eles sofrerão ainda mais. A sua atitude não trará nenhum bem se causar um mal ainda maior. Eu imploro: ordene às nuvens que reguem a Terra.”.

A fada da água sorriu, e o guardião das árvores compreendeu que ela atenderia ao seu pedido.










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OS CINCO PATINHOS E O JACARÉ


Era uma vez cinco patinhos que desejavam muito brincar na lagoa do jacaré de boca enorme. Para enganar o jacaré, eles disseram: “Se você nos deixar nadar na sua lagoa, nós o levaremos à lagoa da pata gorda.”.

A boca do jacaré encheu de água enquanto ele pensava: “Esses patinhos são tão pequenos que não dariam nem mesmo para um lanchinho. Talvez a pata gorda consiga matar essa fome que me atormenta.”.

O jacaré permitiu que os patinhos nadassem. Para deixá-los à vontade, ele resolveu caminhar. Na ausência do jacaré, os patinhos arquitetaram um plano. Eles se esconderiam em um lugar onde o jacaré jamais pensaria em procurá-los: no fundo da lagoa. Eles mergulharam e prenderam a respiração.

Quando o jacaré retornou, ele gritou: “Patinhos, onde vocês estão?!... Ninguém sai vivo da minha lagoa!... Se eu os poupei, foi para conseguir uma refeição ainda maior!... Eu hei de encontrá-los!... Comerei vocês e a pata gorda.”.

O jacaré se afastou, e os patinhos se tornaram os donos da lagoa. Eu ouvi dizer que o jacaré de boca enorme continua procurando os patinhos e a lagoa da pata gorda até hoje.