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GABRIEL E O DESAPARECIMENTO DOS OVOS DE CHOCOLATE




Só havia duas fábricas de chocolate na cidade, e Gabriel era o dono de uma delas. Quando os funcionários saíam, ele costumava conferir o estoque e se alegrava ao verificar que nem mesmo um bombom estava faltando. Mas a proximidade da Páscoa o preocupava, porque ele sabia que alguém roubaria uma grande quantidade de ovos de chocolate.

Gabriel prometeu a si mesmo que, naquele ano, ele estaria mais vigilante e não seria enganado. Fosse quem fosse que costumava roubar os ovos, certamente, seria apanhado. Mas, para o desespero de Gabriel, não foi isso o que aconteceu. Todos os dias, parte da produção de ovos desaparecia misteriosamente, e ele passava as noites em claro, pensando com rancor no prejuízo que teria.

Certa manhã, ele resolveu telefonar para Reinaldo, o dono da outra fábrica, para contar-lhe sobre o desaparecimento dos ovos. Reinaldo, após ouvi-lo pacientemente, exclamou: “Seja generoso, e os seus lucros não serão afetados!...” Gabriel passou o dia todo remoendo o que o seu concorrente dissera: “Generoso, eu?!... A minha fábrica foi construída para gerar lucros!... Aquele ladrão de ovos ainda há de pagar muito caro pelo atrevimento!...”

Gabriel teve uma ideia: ofereceria um aumento de salário a quem desmascarasse o autor do crime. Uma semana depois, um funcionário procurou-o para dizer: “Sr. Gabriel, o Coelho da Páscoa é o responsável pelo desaparecimento dos ovos. Hoje cedo, eu fui o primeiro a chegar na fábrica e o surpreendi colocando os ovos dentro de uma cestinha. Ela nunca se enche, porque os ovos desaparecem, e sempre há lugar para mais e mais ovos!...”

Talvez eu não precisasse dizer que o empregado foi demitido naquele mesmo dia. Na manhã seguinte, ele foi até a outra fábrica e conseguiu marcar uma entrevista com Reinaldo. Após ouvi-lo atentamente, Reinaldo disse: “Há cinco anos, eu também surpreendi o Coelho da Páscoa retirando ovos da minha fábrica, e ele me disse que, se eu continuasse entregando a ele os ovos durante cinco anos, ele providenciaria a realização do meu sonho. Você acabou de me dizer que é órfão e que jamais conheceu seus pais. O meu filhinho desapareceu quando ainda era bebê. A minha esposa veio visitar-me, e nós o deixamos sozinho, na minha sala, apenas por alguns minutos, porque alguém apareceu dizendo que um dos funcionários havia se ferido. Tudo aconteceu tão rápido!... Ninguém havia se ferido. Não conseguimos identificar o autor da mentira. E, após trinta anos, esta é a primeira vez que vejo o meu filho. Seja bem-vindo!!!...” Emocionados, os dois se abraçaram.

Reinaldo, a esposa e o filho viveram felizes para sempre. Os ovos de chocolate da fábrica de Gabriel nunca mais sumiram. Até hoje ele ainda confere a mercadoria depois que os funcionários deixam a fábrica, e fica feliz ao se certificar de que não está faltando um único bombom.






Arte: Magda Cunha


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