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A BRUXA QUE ROUBAVA BRINQUEDOS



Era uma vez uma bruxa que assombrava a imaginação das crianças daquela vila, onde as mães costumavam dizer: “Guardem bem os seus brinquedos porque, se vocês os deixarem espalhados, a bruxa que rouba brinquedos virá pegá-los.”

Certo dia, Luzia, uma garotinha muito esperta, disse à sua mãe: “Mãezinha, eu sei por que a bruxa rouba brinquedos: ela gosta de brincar.” E a mãe respondeu: “Não seja tola, Luzia, a bruxa é má e joga todos os brinquedos que rouba em uma enorme fogueira, para destruí-los.” Luzia, apesar do que a mãe dissera, continuou acreditando que a bruxa gostava de brincar com os brinquedos que roubava, e decidiu atraí-la para entregar-lhe uma de suas bonecas. Quando a noite chegou, Luzia deixou a janela de seu quarto aberta, e colocou, sobre o parapeito, a Lili, que era uma bonequinha muito mimosa.

Luzia conseguiu vencer o sono, porque desejava ver a satisfação no rosto da bruxa. Quando ela apareceu para apanhar a boneca, Luzia levantou-se e disse: “Espere!... Você não precisa fugir... A boneca é um presente.” A bruxa sorriu para Luzia antes de dizer: “A sua generosidade quebrou o encanto... Agora não preciso mais continuar roubando e fugindo. Meu nome é Suzete. Quando eu era criança, uma mulher prometeu-me que, se eu limpasse sua casa, ela me daria a boneca que ela costumava deixar sobre a cama. Eu era pobre e não possuía nenhum brinquedo... Cansada de tanto trabalhar, antes de sair, pedi a ela que me entregasse a boneca, mas ela riu de mim e disse que eu deveria voltar na semana seguinte para limpar sua casa novamente. Contrariada, roubei a boneca e saí correndo. A mulher ficou furiosa e gritou para que eu pudesse ouvir: “Fuja, ladrazinha!... Passe a vida toda roubando brinquedos e fugindo!... Apenas a generosidade de alguém poderia libertá-la, mas, como não existe generosidade neste mundo, você certamente passará a vida toda roubando  e fugindo!...”

Após ouvir a história da jovem, Luzia pediu-lhe que esperasse. Correu até o quarto de sua mãe, contou-lhe tudo e conseguiu convencê-la a deixar a moça entrar. A mãe de Luzia, com o tempo, passou a confiar em Suzete, e resolveu adotá-la. Na vila, nunca ninguém ficou sabendo que Suzete e a bruxa que roubava brinquedos eram a mesma pessoa. Há quem diga que a bruxa nunca existiu, e que as mães inventaram essa história apenas para convencer os filhos a guardarem seus brinquedos.


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O Patinho e a Rainha do reino quentinho







Eu não sou um príncipe... Sou apenas um patinho que gostaria de contar algo muito importante que aconteceu no reino onde vivo...

No reino da rainha Flor era sempre primavera até o dia em que Gélida, a rainha de um reino distante, onde era sempre inverno, resolveu apoderar-se das delícias do reino da minha rainha.

Sem que a rainha Flor pudesse adivinhar o que estava acontecendo, a neve cobriu todo o reino... Pesarosa, ela olhou para mim e disse: “Meu querido patinho, o nosso reino quentinho tornou-se frio e perdeu todo o encanto... As flores desapareceram e os lagos congelaram...  Os animaizinhos se esconderam do frio, e o meu reino, que era verde e quentinho, tornou-se ainda mais frio do que o reino da rainha Gélida. Procure você também um lugar quentinho para viver.”

Você deve estar se perguntando como a rainha Flor conseguia me reconhecer em meio a tantos patinhos... Além de eu ser mais afeiçoado a ela, eu possuo um olhinho azul e outro verde. Bem, mas a minha aparência é irrelevante para o desenrolar da nossa história. A verdade é que, se eu permanecesse naquele reino, eu congelaria, e foi só por esse motivo que concordei em partir.

Voei sozinho, porque as outras aves já haviam deixado o reino. E, para o meu espanto, fui reencontrá-las no reino quentinho da rainha Gélida. Fiquei tão confuso que não conseguia raciocinar... Eu precisava descobrir o que estava acontecendo e, para isso, comecei a nadar no lago próximo ao castelo da rainha, cujo coração deveria assemelhar-se a um bloco de gelo.

Fiquei muito triste no dia em que ouvi a rainha Gélida dizer: “Agora sim: o feitiço que lancei no reino de rainha Flor atraiu toda a neve que havia em meu reino. Aqui será sempre primavera, enquanto lá o inverno será eternamente severo e cortante.” Mas fiquei muito feliz quando, dias depois, a ouvi dizer: “Maldição!... Por que a neve está retornando?!... O meu feitiço deveria durar para sempre!...”

O frio retornou ao reino da rainha Gélida com uma intensidade assustadora, e eu voltei para o reino quentinho da rainha Flor. O coração amoroso da minha rainha não se deixou abater pela neve, que caía ao seu redor, e logo reconquistou o encanto da primavera. Do mesmo modo, a beleza da primavera não conseguiu enternecer o coração frio da rainha Gélida e afastou-se, cedendo o seu lugar ao rigoroso inverno.

A ameaça se foi para sempre; mas agora existe outro problema... Como eu já disse, sou apenas um patinho... Se eu fosse um príncipe, eu me casaria com a rainha Flor...  Você conhece alguém que poderia ocupar o trono, ao lado da minha rainha?!...



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A Festa de Aniversário das Corujinhas






Dona Corulina resolveu fazer uma festa para comemorar o aniversário de suas filhas, Terra e Lama. As corujinhas ficaram muito felizes e perguntaram se poderiam convidar suas amigas, Violeta e Estrela. Dona Corulina consentiu, e os convites foram enviados.

O dia da festa chegou e, enquanto Terra e Lama se preocupavam com a demora de suas amigas, Estrela olhava para o céu contemplando o brilho das estrelas. Aborreceu-se, porém, quando Violeta apareceu inesperadamente, para admirar as violetas que floresciam generosamente.
 


Surpresa, Violeta perguntou: “O que está fazendo aqui, Estrela?!... Imaginei que você estivesse na festa de Terra e Lama.” Estrela respondeu com desdém: “Eu que imaginei que você estivesse lá!... Se eu soubesse que teria o desprazer de encontrá-la aqui, eu teria ido lá certamente. Esta é a vantagem de ter nascido sob o brilho de uma estrela: o céu pode ser visto de todos os lugares, e a estrela brilhante que testemunhou o meu nascimento também estará sempre visível e radiante.”

 
Violeta não perdeu a oportunidade de dizer: “Eu nasci sob a copa de uma árvore cercada de violetas. Naquele momento, a minha mãe não conseguiu avistar o céu, mas inspirou-se nas violetas para escolher o meu nome. Aquelas violetas já murcharam e já morreram, mas a minha mãe disse que as violetas deste canteiro se parecem muito com elas. Se você despreza tanto as violetas, por que não escolheu outro lugar para admirar a sua estrela?”

Estrela respondeu: “Eu não desprezo as violetas e sim quem pensa que elas são mais formosas do que as estrelas. Eu sou diferente porque a estrela acrescentou brilho às minhas penas. Você é diferente porque as suas penas, coincidência ou não, possuem a cor das violetas. Sem sombra de dúvida, eu sou mais formosa, e você, apesar das evidências, insiste em espalhar por aí que é mais graciosa.”

Violeta não conseguiu evitar o riso. Endereçando-lhe um olhar congelante, Estrela perguntou: “Como se atreve a zombar de mim?!...” Violeta respondeu: “Não estou rindo de você, estou rindo de nós. Em vez de estarmos nos divertindo na festa de aniversário de nossas amigas, estamos aqui querendo provar o impossível: a nossa superioridade. Embora sejamos diferentes, somos igualmente belas. O que você acha de encerrarmos esse assunto e irmos aproveitar um pouco a alegria da festa?!...”

Estrela tentou buscar, em seu cérebro, palavras que contrariassem o que Violeta dissera, mas sua mente parecia vazia.  Violeta estava certa: era hora de esquecerem as divergências e começarem a pensar em se divertir. Ela enviou um olhar significativo a Violeta, e as duas voaram em direção à árvore das amigas.


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O Duende, os Gnomos, o Elefante e a Tartaruga




Era uma vez um duende muito solitário, que possuía um coração tão grande que não cabia em seu peito. Ele era o guardião de uma ilha e desejava poder atravessar o oceano para fazer amizade com outros duendes guardiães.

Certo dia, ele sonhou com os gnomos das rosas, e eles lhe disseram: “Para você conseguir realizar o seu sonho, você precisa encontrar o elefante adormecido. Você não conseguirá despertá-lo, mas deverá cochichar, em seu ouvido, o nome de um animal que você acredita que poderá conduzi-lo aos lugares que você deseja conhecer.”



Quando o duende despertou do sonho que tivera com os gnomos das rosas, ele imediatamente resolveu partir em busca do elefante adormecido. O duende caminhou, caminhou durante vários dias, e já estava pensando em desistir da busca, mas felizmente conseguiu encontrá-lo.  Ele se aproximou do animal, que dormia sobre uma pedra no formato de coração, e sussurrou uma palavra em seu ouvido. Nesse exato momento, ele ouviu uma voz agonizante pedindo ajuda. O duende olhou ao redor e viu uma tartaruga presa em um espinheiro.



O duende pensou: “Era só o que me faltava: eu esperava ver uma águia voando no céu, e o que aparece no meu caminho é uma tartaruga ferida!...” Ele ajudou a tartaruga a se desvencilhar dos espinhos, limpou seus ferimentos, alimentou-a e contou histórias para distraí-la. Ele se surpreendeu com a recuperação rápida da tartaruga, que acabou se tornando sua amiga.

Numa manhã ensolarada, o duende acordou e ficou maravilhado ao vê-la nadando. Ela se aproximou da costa e o convidou para um passeio. Ele hesitou por alguns instantes porque não sabia nadar, mas a lembrança de ver a tartaruga se divertindo na água fez com que o duende se aventurasse a subir em seu casco. 



 A partir daquele dia, os dois se tornaram inseparáveis, e o sonho do duende se realizou: sua amiga tartaruga poderia vencer facilmente a distância que o separava dos outros duendes guardiães.