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O velho sábio que conseguiu abraçar a imortalidade

Era uma vez... Não!... Definitivamente, a nossa história não começa assim, porque ela aconteceu muitas e muitas vezes; e, talvez, esteja acontecendo novamente neste exato momento.

Diz a lenda que um velho sábio conseguiu abraçar a imortalidade... Durante sua vida toda, ele leu uma quantidade enorme de livros que falavam sobre o melhor modo de se viver. Essa última afirmação não é verdadeira... Eu gostaria de poder acrescentá-la a esta história... Mas a verdade é que o velho sábio nunca aprendeu a ler. A sua sabedoria repousava em seu interior e, ocasionalmente, jorrava como a água cristalina de uma fonte refrescante e belíssima. 

Infelizmente poucos se beneficiavam de sua sabedoria, porque consideravam sua aparência repugnante e desconheciam a sua nobreza de caráter. Mas as poucas pessoas, que se encorajavam a sentar-se ao seu lado no banco da praça, logo descobriam o que as infelicitava. O velho sábio, que era o mendigo que causava mais asco do que compaixão, lhes falava sobre o presente, o passado e o futuro, e lhes pedia que guardassem segredo sobre suas revelações.

Como os segredos são escorregadios, alguém acabava sempre deixando escapar algo que relacionasse os conselhos do mendigo aos avanços que começaram a ocorrer em todas as áreas de sua vida. Tão logo isso acontecia, a notícia se espalhava, e todos se dirigiam à praça, na esperança de obterem os conselhos do mendigo.

Mas o sábio mendigo também era escorregadio e não se deixava prender. Enquanto todos maldiziam a sorte por não terem conseguido encontrá-lo, lá estava ele, sereno e solitário, sentado no banco de outra praça, onde os transeuntes pareciam ignorá-lo.



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A amizade de Lia e Bia



Lia e Bia estudavam na mesma escola, em salas diferentes. Certo dia, as duas se encontraram na biblioteca. Estavam muito compenetradas: uma desenhando, e a outra escrevendo. Foi Bia quem disse: “O meu nome é Bia. O que você está fazendo?...” Lia respondeu: “Desenhando. Não gosto de ser interrompida quando desenho. É por esse motivo que venho à biblioteca. Eu me chamo Lia.”

Bia era insistente, e continuou puxando conversa: “Eu escrevo, mas não sei desenhar... Os seus desenhos poderiam me inspirar a escrever novas histórias.” Lia respondeu: “Nem pense nisso!... Os meus desenhos são muito especiais e pertencem às histórias que povoam a minha imaginação. Se alguma história sua despertasse o meu interesse, eu até poderia fazer algum desenho sobre ela.” Bia, sentindo-se magoada com a resposta de Lia, rebateu: “Eu duvido que algum desenho seu pudesse se encaixar em uma de minhas histórias.” As duas se calaram e voltaram a se concentrar no que mais gostavam de fazer, e aquele encontro parecia ter marcado o início e o fim de uma promissora amizade.

Certa noite, porém, algo muito misterioso aconteceu: Lia e Bia tiveram o mesmo sonho. Estavam juntas, caminhando em um lugar maravilhoso e desejavam atravessar o portal que as conduziria ao mundo encantado das criaturinhas mágicas. As duas zombaram da advertência que uma coruja, pousada em um dos galhos da gigantesca árvore que exibia o fascinante portal em seu tronco, repetia: “Este portal, que é feito de luz, não se abrirá para quem tiver o coração envolto em sombras.”

Lia quis ser a primeira a atravessar o portal. Mas decepcionou-se quando o portal desapareceu, e o tronco da árvore recuperou o seu aspecto original. A coruja disse: “No seu coração, existe a sombra de uma amizade que poderia ter florescido e murchou.”

Minutos depois, o portal reapareceu para que Bia pudesse atravessá-lo. Mas, quando Bia aproximou-se da luz multicolorida que emanava do portal, a luz foi substituída pela casca grossa e áspera do tronco da árvore. A coruja disse: “A sombra da amizade que poderia ter florescido no coração de Lia e murchou é a mesma sombra que escurece o seu coração.”

Depois desse sonho, Lia e Bia tornaram-se amigas inseparáveis. Bia passou a inspirar-se nos desenhos de Lia para criar novas histórias. E Lia, através de seus desenhos, conseguiu materializar os personagens e os cenários que antes só existiam na imaginação de Bia.


                           
Texto: Sisi Marques


Ilustração: Adaptação da Arte de Amanda Layouts

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A festa mais bela que o luar já viu

Aquela foi a festa mais bela que o luar já viu. O canto das sereias conduzia a dança das fadas. Dos enormes caldeirões das bruxinhas, subia a fumaça rosa com cheiro de flor. Os elfos tocavam suas flautas, e os gnomos reuniam os animaizinhos para assistirem à dança. Os duendes convenciam os trolls a se comportarem. A magia reluzia nas árvores, nas flores, no lago... Cada folha, cada pétala, cada gota de água parecia dançar ao som do canto das sereias. Até mesmo as estrelas se agitavam... Talvez desejassem participar da dança. Pena que nenhum ser humano foi convidado para a festa mais bela que o luar já viu!...


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O Ursinho Lilico e a Garotinha






Os brinquedos que o Papai Noel distribui são mágicos e sempre escolhem a quem pertencer. Certa vez, os duendes que ajudam o Papai Noel quase enlouqueceram, procurando por um ursinho de feltro que havia desaparecido. Cansados de tanto procurá-lo, os duendes desistiram da busca e resolveram substituí-lo por outro brinquedo.

Esse mesmo ursinho foi encontrado, por uma garotinha, embaixo da árvore de Natal que os pais dela haviam enfeitado para alegrá-la. A garotinha, que era muda, começou a falar quando segurou o ursinho, e a primeira palavra que ela pronunciou foi o nome dele: “Lilico”.

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A Corujinha Dorminhoca




Vocês se lembram da Juju, a corujinha que aprendeu a ler porque estava preocupada com a segurança de seus amiguinhos?!... Não se lembram?!... Não tem importância, porque esta história não é sobre a Juju e sim sobre a prima dela: a Jurinha.

A Jurinha era o oposto da Juju... Ela passava o tempo todo dormindo, e foi o único animalzinho da floresta que não aprendeu a ler. Mas a Jurinha não estava nem um pouco preocupada com isso... Ela só queria saber de dormir, dormir e dormir...

Certo dia, após ter dormido e sonhado que era uma princesa, a Jurinha acordou com o coração partido. Ela amava o Dr. Corujão, mas ele preferiu casar-se com a Juju, e a Jurinha ainda sofria por causa desse amor.  Ela pensava no Dr. Corujão quando reparou que o irmão dele estava pousado no galho de uma árvore, e olhava fixamente em sua direção.

A Jurinha, distraída, retribuiu o olhar, e os seus olhinhos, que estavam quase sempre fechados, ficaram bem abertos, porque ela parecia hipnotizada pelo sentimento novo que brotava e crescia em seu coração. Foi nesse momento que a Jurinha  pensou: “Isso sim é amor, e não o que eu pensava sentir pelo Dr. Corujão!”

A Jurinha, a partir desse dia, modificou-se completamente. Com o coração enfeitado pelo amor do irmão do Dr. Corujão, ela passou a dormir menos e a interessar-se mais por assuntos que tinham como objetivo o bem comum. Todos passaram a admirá-la; e, logo, em vez de ser conhecida como “Jurinha, a corujinha dorminhoca”, ela passou a ser chamada de “Jurinha, a corujinha conselheira”. 


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Afonso e o Duende que Sabia Costurar




Afonso constantemente se aborrecia, porque sua mãe estava sempre ocupada, costurando. Certa noite, ele pensou: “Se eu aprendesse a costurar, eu poderia ajudar a minha mãe, e ela teria tempo para brincar comigo.”

Naquela mesma noite, um duende visitou o sonho de Afonso para dizer: “Eu vim realizar o seu desejo. Para que ninguém desconfie da minha presença, eu me transformarei em um gatinho. Bastará você me colocar sobre a mesa de trabalho de sua mãe para que o serviço comece a ser realizado. Ela ficará muito feliz, imaginando que foi você quem a ajudou, e o cobrirá de atenção e carinho.”

Quando Afonso acordou, imaginou que tudo não tivesse passado de um sonho maravilhoso. Mas, felizmente, aquele fora apenas o início da realização de um sonho. Graças à ajuda do duende que sabia costurar, a mãe de Afonso passou a ter tempo para cuidar do filhinho que tanto amava.

Quando Afonso cresceu, tornou-se um alfaiate próspero e, até hoje, ele trabalha na companhia do gatinho que ele coloca sobre sua mesa de costura.




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Um Anjinho Chamado Jasmim



Era uma vez um anjinho chamado Jasmim. Ele não gostava de seu nome, e vivia dizendo: “Jasmim é nome de flor, e eu gostaria de ter um nome que tivesse sido criado apenas para mim!...”

E o pequenino Jasmim sabia como atrair a atenção dos outros anjinhos, que o cobriam de carinho quando ele começava a reclamar: “Jasmim é nome de flor, e eu gostaria de ter um nome que tivesse sido criado apenas para mim!...”

E Jasmim, com o seu coração quentinho depois de receber tanto carinho, vestia sua camisolinha azul de bolinhas brancas, unia suas mãozinhas para fazer uma prece, dormia e sonhava que estava brincando em um campo perfumado, repleto de jasmins.


Arte: Magda Cunha


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Tecer Sonhos


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O Elfo Negro e o Beija-Flor



Ismael era o nome daquele ser encantado,
Que percorria a floresta como uma flecha ligeira,
Enquanto extraía notas melodiosas de sua flauta.

A sua pele era da cor do véu
Que cobre o céu
Em uma noite sem estrelas.

O seu sorriso e a sua música
Atraíam um beija-flor,
Que também decidira
Fazer daquela floresta
O seu único lar.

Certo dia, Ismael estava tocando,
Quando o pequeno pássaro
Encorajou-se a pousar em seu braço.

Ismael parou de tocar no instante
Em que o ouviu dizer:
“Eu sou a guardiã desta floresta,
E me transformei em uma ave
Para poder sobrevoá-la.
Se você aceitar o meu amor,
Você se tornará o guardião
Desta floresta e, também,
Do meu coração.”

O elfo negro, ao beber da doçura daquela voz
Que era ainda mais calorosa do que o som
Ardente e apaixonado de sua flauta, respondeu:

“Eu sempre desconfiei que essa sua aparência
Escondia a essência do verdadeiro amor.
O meu coração, que já lhe pertence,
Esta floresta, jurou proteger.”

Diz a lenda que a floresta do elfo negro
Ainda existe, e continuará existindo enquanto
O amor for preservado no coração de seus guardiões.




Arte: Lucia Haddad

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Doce Ventura de Tecer Sonhos


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O Jovem Mercador e a Filha do Pirata



Ernesto era um mercador muito próspero. Antes de suas viagens, ele abastecia o navio com tecidos, perfumes, utensílios de cozinha e mantimentos que, segundo ele, eram indispensáveis e atrairiam compradores ansiosos por obtê-los. Quando ele retornava de suas viagens, ninguém mais se surpreendia ao verificar que, além de ter vendido tudo o que levara, ele ainda retornava com uma longa lista de itens, que os seus fregueses lhe encomendavam para quando ele retornasse àquela região.

Certo dia, porém, o navio de Ernesto foi atacado por piratas. Ernesto estava no convés, admirando a serenidade das ondas, quando uma jovem, que parecia estar se afogando, gritou por socorro. Ele se atirou no mar para salvá-la, mas logo compreendeu que havia sido vítima de uma terrível emboscada. O navio inimigo aproximou-se, e ele não teve tempo de reunir seus homens e comandar a defesa.

O navio foi roubado com toda a mercadoria e os seus pertences, e ele e seus subordinados foram abandonados em uma ilha deserta. Mas, pior do que ter sido despojado de quase toda a sua fortuna, foi ter perdido o próprio coração: ele se apaixonou pela jovem que o enganara.

Mas Ernesto não poderia ter adivinhado que Luna, a filha do temível pirata, também havia entregado o seu coração para ele, no momento em que ele se aproximou com a intenção de salvá-la.

Os dois jovens apaixonados perderam a paz que costumava embalar seus corações. E tudo fizeram para que houvesse um reencontro... Luna desistiu de acompanhar o pai em suas viagens, onde a mentira, a desonestidade e o roubo reinavam. Ela comprou um navio e contratou uma tripulação bem diferente daquela que o seu pai se orgulhava tanto em liderar. O único objetivo de Luna era descobrir o paradeiro de seu afeto.

Quanto a Ernesto, após ter sido resgatado juntamente com sua tripulação, ele continuou a ser mercador, mas a sua rota, em vez de ser aquela que lhe garantiria mais lucros, passou a ser a mesma do pirata, pai de sua amada.

Luna, ao descobrir que o navio de Ernesto perseguia o navio de seu pai, não teve dificuldade em localizá-lo. Entretanto, ela não ousou se aproximar... Ela aguardava o momento em que Ernesto, cansado da viagem, buscasse a terra firme. E, quando isso aconteceu, ela pediu a um de seus empregados para segui-lo a fim de descobrir onde ele havia se instalado.

De posse da informação desejada, Luna soube esperar até que a oportunidade surgisse. Durante uma festividade local, os habitantes da vila se reuniram na praça, e os dois jovens amantes puderam se reencontrar.

Quem me contou esta história disse que Ernesto e Luna vivem juntos até hoje. Eu acredito que isso seja verdade, porque também já ouvi dizer que, no céu, existe um lugar destinado ao reencontro de corações que mergulharam nas ondas do verdadeiro amor.






Desenhos de Michel Sipliano



História de Sisi Marques
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Os Brinquedos de Josias


Era uma vez um velhinho que fabricava brinquedos bons e baratos. Quando ele era criança, os brinquedos nunca chegavam às suas mãos por serem muito caros, e era esse o motivo que levava Josias a fabricar brinquedos que pudessem chegar aos lares menos afortunados.

Numa noite de Natal, Josias, batendo o martelo nos pregos de um caminhãozinho de madeira, que logo iria para as mãos de um garoto órfão que morava em sua rua, lembrou-se do dia em que o dono de uma grande fábrica de brinquedos bateu à porta de sua lojinha para convidá-lo a trabalhar para ele. Josias, com os bolsos vazios, e o coração leve, recusou a oferta. Ele sabia que, se abandonasse sua lojinha para trabalhar naquela fábrica, não haveria ninguém para substituí-lo. 

Nessa mesma noite, em que Josias se lembrara da oferta vantajosa de emprego que recusara, após entregar o brinquedo e um prato de comida ao garoto órfão, ele voltou para casa, deitou-se e adormeceu. Quando abriu os olhos, percebeu que não estava mais na Terra. Curioso, sentou-se na beira da cama e alegrou-se quando cinco anjinhos se aproximaram para pedir-lhe que construísse, para eles, os brinquedos que só ele sabia fazer.


Sisi Marques