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SELMINHA E A FADA MISTERIOSA

 



Selminha era uma garota que gostava muito de ler. Aquela era uma data especial porque era o dia do seu aniversário. A sua Mãe, após abraçá-la e beijá-la, disse: “Aqui está um envelope com o valor que você me pediu, há duas semanas, para comprar um livro. Pode comprá-lo, Filhinha!... Vá à livraria e compre o livro que você tanto deseja. Mas lembre-se: Vá apenas até a livraria; não entre na floresta.”. A Mãe de Selminha não precisou falar duas vezes. Ela ficou muito feliz quando viu a Filha sair cantarolando.



Selminha caminhou até a livraria que ficava em uma esquina próximo à entrada da floresta. Ela parou em frente à vitrine e ficou olhando para os livros, como sempre costumava fazer. O encantamento que os livros exerciam sobre ela só foi quebrado quando ela ouviu um barulho e notou que havia um livro bem perto de onde ela estava. Ela olhou ao redor à procura de quem poderia tê-lo derrubado; e sentiu um calafrio quando viu duas mulheres entrando na floresta: uma jovem, que caminhava lentamente e carregava uma cobra apoiada em seu ombro esquerdo, e uma velhinha, que, apesar da idade avançada, caminhava rapidamente.

 




Selminha, segurando o livro que apanhou do chão, perguntava-se qual delas poderia tê-lo deixado cair. A mulher mais jovem não parava de olhar para trás em sua direção, e ela resolveu segui-la. A mulher caminhava alguns passos e olhava para trás, caminhava e olhava para trás, ocasionalmente esboçava um sorriso estranho e continuava caminhando... Selminha já estava ficando cansada quando viu a mulher parar em frente a uma árvore. A garotinha sentiu o corpo todo tremer no instante em que viu a cobra adquirir luminosidade e inclinar-se na direção da árvore. Uma porta também luminosa apareceu misteriosamente no tronco da árvore, e a mulher empurrou-a para que ela abrisse. Deliciando-se com o espanto que mantinha os olhos de Selminha arregalados, ela sorriu e convidou-a a entrar.

 

Selminha, após vencer o medo, aceitou o convite e ficou maravilhada com o tanto de corredores e cômodos que havia dentro da árvore. A mulher disse: “Meu nome é Suzarema. Nasci e cresci nesta floresta. Nunca tive problemas até aquela fada misteriosa aparecer!... Ela esconde o rosto com uma máscara que ostenta um bico de ave!... Como se isso não bastasse, ela ainda pinta o corpo e carrega asas falsas!... Por que digo isso?!... Se as asas fossem reais, ela não precisaria locomover-se deitada nas costas de um pássaro, que também foi criado com magia. Até o cabelo dela é tingindo!...”.

 

Após uma breve pausa, Suzarema acrescentou: “Você precisa me ajudar a capturar a fada. Está vendo este vidro?... Saia e leve-o com você. Está vendo também este apito?... Sente-se recostada ao tronco da minha árvore, sopre o apito, e o pássaro que carrega a fada será atraído. Quando ele pousar, toque novamente o apito, o pássaro desaparecerá, e a fada ficará reduzida a uma estátua de pedra. Faça o que eu disse... E, quando você me entregar o vidro com a fada, eu lhe darei um presente maravilhoso: esse livro que você encontrou. Sim, o meu livro será seu. Hoje é seu aniversário, Selminha!... Parabéns, querida!...”.

 

Desconfiada, Selminha perguntou: “Como sabe que hoje é meu aniversário?”. Colocando o braço direito ao redor dos ombros de Selminha com a intenção de conduzi-la até a porta da árvore, Suzarema disse com voz pausada e suave: “Eu posso adivinhar o presente, o passado e o futuro, porque consigo ver o que está no coração das pessoas; e sei que você atenderá ao meu pedido porque deseja tornar este seu aniversário uma data inesquecível!... O livro é mágico e ele sempre tomará a forma do livro que você desejar. Sim, querida, você não precisará mais esperar até os seus pais lhe darem o dinheiro para que você possa comprar seus livros.  Agora vá. O pássaro e a fada já estão sobrevoando a floresta.”.

 

Selminha, segurando o vidro e o apito, saiu da árvore e sentou-se recostada à sua sombra. O dia estava quente, e ela imaginou quanto seria bom se pudesse beber um delicioso e refrescante copo de suco de laranja. Um pouco assustada e feliz ao mesmo tempo, ela sorriu quando um copo surgiu ao seu lado. Após beber o suco, ela soprou o apito. Minutos depois, lá estava o pássaro pousando bem à sua frente. A fada, enquanto descia das costas do pássaro, perguntou: “O que está fazendo?!... Não conheço você!... Onde está Suzarema?!... Foi ela quem mandou você tocar o apito?!... Por favor, não o sopre novamente.”.




Tarde demais!... A fada mal acabou de falar, e Selminha já havia soprado o apito. Com o coração suportando o peso do receio de ter feito algo errado, a garota segurou delicadamente a fadinha e colocou-a dentro do vidro. Ela já se preparava para rosquear a tampa, quando viu surgir à sua frente a velha que ela vira anteriormente. 

 

Apavorada, Selminha implorou: “Por favor, não me mate!... Por favor, não me transforme em algum bicho horrível e repugnante!... Por favor, deixe-me ir!...”. Calmamente, a velhinha ordenou: “Entregue-me o vidro e o apito. Pode ir. Você não é minha prisioneira. Nunca mais volte a esta floresta.”.

 

Arrependida, Selminha aventurou-se a dizer: “Perdoe-me... Eu não sou má... Eu só desejava ganhar o livro mágico.”. A velhinha perguntou: “Gosta de histórias?!... Então preste atenção a esta História, porque ela é real. Sim, ela é verdadeira... Não é fruto da imaginação de ninguém... Amélia possui um dom que pode acarretar graves consequências: ela consegue adequar o sentimento das pessoas aos seus próprios sentimentos. Em outras palavras, ela consegue fazer com que as pessoas se esqueçam de seus próprios desejos e se submetam a fazer o que ela quer.”.

 

Selminha interrompeu a velhinha quando comentou: “Ela não conseguiu evitar que eu soprasse o apito.”. Com o olhar distante, a velinha afirmou: Ela teria conseguido detê-la se tivesse desejado intensamente. Mas talvez ela já esteja cansada de carregar o peso do sofrimento que o uso indevido de sua magia causou.”.

 

Após alguns segundos de silêncio, a velhinha fixou o olhar no rosto de Selminha, antes de dizer: “O meu nome é Suzarete. Sou uma fada, e desejava casar-me com Diogo, que também me amava. Amélia, acreditando que estivesse apaixonada por Diogo, usou sua magia para afastá-lo de mim. Ele se apaixonou por ela; mas, temendo que o amor de Diogo fosse mais poderoso do que sua magia, Amélia desejou que a minha aparência fosse modificada. Ela me transformou na pessoa que você está vendo. Mas tudo é aparência, porque eu continuo sendo a mesma fada e ainda amo Diogo.”.

 




Enxugando as lágrimas que teimavam em cair, Suzarete continuou: “Diogo não era o verdadeiro amor de Amélia, e ela logo descobriu isso. Ela se apaixonou por Silas e teve que confessar a Diogo que usara sua magia para fazê-lo deixar de gostar de mim. O encanto se quebrou parcialmente, e ele desde então tem me procurado. Mas eu me escondo, porque desejo que ele se lembre de mim como eu era, e não que ele me veja como eu aparento ser agora. Amélia e eu éramos amigas; e, um dia, ela me procurou para dizer que de nada adiantara ela desejar de todo o coração que eu voltasse a ser como eu era; e que ela só seria feliz com Silas quando eu pudesse ser feliz com Diogo. Silas concordou em esperar e ofereceu-se para ajudá-la. Amélia não possui asas, e ele pediu a ela que desejasse que ele pudesse conduzi-la a todos os lugares que ela desejasse ir. Ele assumiu a aparência de um pássaro, e ela diminuiu de tamanho e assumiu a forma que você viu antes que ela se transformasse em uma estátua de pedra. Agora Silas desapareceu, e eu não sei trazer Amélia de volta à vida.”.

 

Timidamente, Selminha confidenciou: “Eu gosto muito do meu cachorrinho de pelúcia. Nós brincamos sempre de inventar histórias.  Nós também agimos como se fôssemos personagens. Certo dia, um feiticeiro malvado deu a ele um veneno, e ele morreu. Eu fiquei muito triste e o segurei de encontro ao coração. Como num passe-de-mágica, o coraçãozinho dele voltou a bater. Você também é Fada, por que você não segura a pequenina Amélia junto ao seu coração?!...”.

 

Olhando ternamente para Selminha, Suzarete retirou Amélia do vidro e aproximou-a de seu coração. Logo, os fios de luz que começaram a emanar de seu coração envolveram Amélia, e a pequena estátua de pedra desapareceu. No instante seguinte, a magia tornou-se ainda mais poderosa, e os olhos de Selmina deliciaram-se ao ver, em vez da velhinha, a verdadeira aparência de Suzarete. Sim, Suzarete voltara a ser Fada, e a alegria que ela sentiu ao ver Silas e Amélia surgirem na sua frente como eles realmente eram fez com que ela se tornasse ainda mais bela. Os três sorriram e despediram-se de Selminha.

 


Sentindo-se muito feliz, Selminha pensou em bater à porta da árvore de Suzarema para contar a ela o que havia acontecido. Mas desistiu da ideia ao lembrar-se de que ela tinha acesso ao presente, ao passado e ao futuro. Sorrindo, Selminha apanhou o vidro, o apito e o copo, e depositou-os ao lado da porta da árvore. O seu coração ficou ainda mais repleto de alegria quando o vidro, o apito e o copo desapareceram; e, no lugar deles, surgiu o livro que ela tanto desejara. Selminha agradeceu o presente, em pensamento, a Suzarema e deixou a floresta. Em vez de comprar um livro, ela preferiu passar na confeitaria e comprar um bolo. Afinal de contas, ainda era o seu aniversário!...

 

Sisi Marques

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JUSSARA, ANALICE E O GUARDIÃO DOS PÁSSAROS

 




Aquela não foi a primeira vez que Jussara sentiu que deveria tomar providências em relação ao comportamento de Analice... A Garotinha vivia escondendo coisas e, ultimamente, começara a esconder Animais.

 

Cansada de tanto falar com Analice e de sempre ouvir a mesma resposta: “Não fui eu!... Por que eu esconderia coisas e animais?!...”, Jussara procurou Demétrio, um dos Guardiões dos Pássaros, para dizer: “Já chega!... Não posso mais tolerar o comportamento inadequado de Analice!... Preciso fazer alguma coisa que mostre a ela que não está certo esconder o que é dos outros!... “.

 



Ternamente, Demétrio perguntou: “Não teria sido mais fácil você ter conversado com outros Guardiões que moram perto da sua casa, em vez de ter voado até aqui?!...”. Sem conseguir fixar o olhar no rosto dele, Jussara respondeu timidamente: “Você sabe que não seria a mesma coisa... Quero dizer... Eu precisava vê-lo... Precisava ouvir a sua voz... Precisava falar com você... Ainda está apaixonado por Denise?”.

 

Ele respondeu com a voz encharcada de tristeza: “Sim, infelizmente sim. Descobri que ela se apaixonou por um humano que nem ao menos acredita na existência de Fadas. Mas esse é um assunto que interessa apenas a ela e a mim. Vamos nos concentrar no motivo que a trouxe aqui... Eu já ajudei você a encontrar o seu Elefante, a sua Girafa, e recentemente um Gnomo foi até a sua casa para entregar-lhe o Coelho que ele encontrou na Floresta.”.




 





Dessa vez, encorajando-se a mergulhar nos olhos de Demétrio, Jussara disse: “Sim. E ele não era um coelho qualquer, era o meu Coelho. E, também, não podemos nos esquecer dos meus pertences que desaparecem; e, aos poucos, eu os encontro aqui e ali. Não é porque Analice é minha Amiga e mora na minha casa que ela tem o direito de agir desse modo. E o pior de tudo é que ela nega, ela nunca assume o que faz. Você se lembra do Cavalinho que deu a ela?... Se, durante a noite, você fosse buscá-lo e o escondesse aqui por alguns dias, talvez ela compreendesse como é difícil quando alguém tira de nós o que tanto amamos.”.  

 

Jussara ficou felicíssima quando ouviu Demétrio dizer: “Acredito que Analice precisa aprender a respeitar os sentimentos dos outros. E o que você me diz sobre... darmos uma oportunidade a nós dois?!... Talvez a Felicidade não esteja tão distante quanto eu imaginava que estivesse.”. Jussara sorriu, e os dois se beijaram docemente.

 

Como Jussara e Demétrio haviam previsto, o “desaparecimento” do Cavalinho de Analice trouxe a ela muita tristeza e preocupação. Para não prolongar o sofrimento da Garota, Jussara disse: “Não mentirei para você. O seu Cavalinho está na casa de Demétrio, e ele só o trará de volta se você confessar os seus erros e prometer nunca mais esconder nada de ninguém. Concorda?...”.

 

Antes de responder à pergunta de Jussara, Analice comentou: “Eu sei que vocês estão namorando, e ele parece gostar muito de você. Quando eu crescer, quero ter um Namorado tão bonito quanto Demétrio. Sim, não precisa olhar para mim desse jeito... Não estou mudando de assunto... Estou sendo sincera... É verdade o que eu disse... Está bem!... Eu confesso... Fui eu que escondi os seus Animaizinhos e, também, a sua escova de cabelos, o seu vestido favorito e todas aquelas outras coisas. Prometo nunca mais esconder nada de ninguém. Agora posso ter o meu Cavalinho de volta?!...”.

 

No dia seguinte, Demétrio foi à casa de Jussara para entregar o Cavalinho a Analice e perguntar a Jussara se ela aceitaria casar-se com ele.




 

Sisi Marques

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RUBI, CRISÂNTEMO E A FLORESTA DOS COGUMELOS AZUIS

 






Esta não era a primeira vez que Rubi dizia a Crisântemo em tom de reprovação: “Solte já essas flores!... O que pensa que está fazendo?!...”. Como das outras vezes, ele tentou explicar, mas ela se recusou a ouvir. Em vez disso, ordenou: “Desapareça, saia daqui!...”.

 



Crisântemo entristece-se profundamente e, com extremo pesar, atendeu ao pedido de Rubi e desapareceu na trilha que o conduziria de volta à Floresta dos Cogumelos Azuis.

 

Rubi também não se sentia nada feliz, e só se lembrou de que tinha um encontro com o Sábio da Floresta, porque ouviu o canto de pássaro que ele costumava emitir para avisar que estava se aproximando.

 



Após cumprimentá-la cordialmente, ele perguntou: “Quer mesmo saber a quem o Destino pretende uni-la?!... Não precisa olhar para mim desse modo!... Por que os seus olhos sempre irradiam impaciência e intolerância?!... Está bem!... Foi por esse motivo que você pediu a Crisântemo que fosse à minha procura e marcasse este encontro, e é para lhe revelar algo, que o seu coração já sabe e se recusa a aceitar, que estou aqui.”. Rubi, deixando transparecer seu mau humor, sugeriu: “Por que não economiza as palavras e vai direto ao assunto?!...”.

 

Esquadrinhando o rosto de Rubi, o Sábio comentou: “Não é difícil descobrir por que você está tão zangada!... Crisântemo deve ter se cansado de sua falta de delicadeza e partiu.”. Rubi não mediu as palavras quando disse: “Eu não sou impaciente, intolerante, não me zango facilmente e muito menos costumo ser indelicada!... O que vocês não compreendem é a importância que as flores têm!... Tanto você quanto Crisântemo são insensíveis e tolos!... Você é outro que deveria desaparecer do meu campo de visão!... Quero respostas e não recriminações!... Agora só faltava você me dizer que o amor estava mais próximo do que eu imaginava, e eu o mandei para longe!... A verdade é não, eu não estou apaixonada por Crisântemo!... Como pode alguém, com nome de flor, arrancar da terra as flores que encontra e ainda ter a audácia de ficar olhando para mim com ternura, como se estivesse coberto de inocência?!... Cínico, isso é o que ele é!...”.

 

Pacientemente, o Sábio disse: “Você sabe que está errada e sabe também o motivo que levava Crisântemo a colher as flores. Você nunca permitiu que ele explicasse. Mas eu sei, e você também sabe que ele desejava entregá-las a você, porque esse seria um modo de dizer que a ama.”. Rubi exclamou: “Ah, era só o que faltava!... Ele querer expressar o seu amor por mim, ferindo todas as flores!... Não!... Ele fez muito bem em voltar para o lugar de onde veio porque, na Floresta dos Cogumelos Azuis, só há cogumelos azuis; nada mais cresce além daqueles cogumelos!... Por que está me olhando com esse ar de complacência?!... Só faltava você dizer que eu deveria descer deste meu formoso cogumelo vermelho; sim, porque todos os cogumelos deveriam ser vermelhos, e ir ao encontro de Crisântemo na Floresta dos Cogumelos Azuis!... Isso não!... Isso nunca!...”.  

 

Depois que o Sábio partiu, os minutos, as horas e os dias se passaram deixando atrás de si amargura, solidão e tristeza. Rubi nunca havia chorado e, de repente, lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. O pensamento de que talvez estivesse apaixonada por Crisântemo começou a assustá-la, mas depois trouxe paz e alegria ao seu coração. Sim, havia chegado o momento de ela descer de seu cogumelo majestoso e entrar na Floresta dos Cogumelos Azuis. Mas ela só aceitaria o amor de Crisântemo se ele prometesse nunca mais colher as flores que ela tanto amava.

 




Sisi Marques

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ELISANGELA E A FLORESTA DOS PÁSSAROS ESTRANHOS

 




 A nossa história começa com o desaparecimento de Bolinha, a ave de estimação de Elisangela. Todas as Fadas da Floresta, compadecidas da tristeza da Amiga; e, também, preocupadas com aquela bolinha de penas que era só alegria, se reuniram para tentar localizá-la.

 

As horas de busca se transformaram em dias, e quem, finalmente conseguiu encontrar Bolinha foi Mariana. Ela procurou Elisangela para dizer: “Eu tentei trazer Bolinha, mas ela parece não me reconhecer... Ela estava escondida no meio da folhagem... E continua lá... Talvez ela tenha machucado a asa.”. Elisangela agradeceu à Amiga, e acompanhou-a até o lugar onde Bolinha estava.”.

 


Não. Bolinha não havia machucado a asa. E Elisangela logo descobriu o que havia acontecido... Letícia, a Bruxa da Floresta, amarrou um papel dobrado na perna direita de Bolinha... A mensagem dizia: “Cara Elisangela, cansei-me de você e de todas as fadas desta Floresta!... Talvez eu devesse partir, mas eu cheguei aqui antes de todas vocês. Sim, esta Floresta é minha, e são vocês quem terão que voar para bem longe em busca da Floresta dos Pássaros Estranhos!... Apenas lá vocês encontrarão a cura para a tristeza daquela ave que se recusou a me fazer companhia. Pensem o que quiserem a meu respeito!... Que sou cruel!... Que sou invejosa!... Boazinha, eu sei que não sou... É bem possível que eu seja cruel, mas invejosa não!... Quem precisa de asas quando tem uma vassoura potente e confortável como a minha?!... E você e suas amiguinhas terão que bater muito as asas para chegarem à Floresta dos Pássaros Estranhos. Boa viagem, queridinha!...”.




 Elisangela pensou, pensou e chegou a uma decisão: Partiria sozinha em busca dessa misteriosa floresta. Não completamente sozinha, porque levaria Bolinha consigo. E ela precisaria também da ajuda de Eliana, a Fada que falava com as borboletas e conseguia ver tudo em sua bola mágica. Na verdade, quase tudo porque a pedra não conseguiu mostrar-lhe a tal floresta, e as borboletas também não conheciam a sua localização. Elisangela agradeceu o empenho da Amiga em ajudá-la e aceitou sua sugestão de procurar Amélia, a Fada que possuía asas de penas de pássaros.

 



Ela já estava exausta quando chegou à parte da Floresta onde morava Amélia e ficou decepcionada quando a ouviu dizer: “Lamento, mas só conheço a nossa Floresta. Nunca ouvi dizer que existia outra floresta, e muito menos que lá vivessem pássaros estranhos!... Mas, não desista porque a magia de Luciana certamente conseguirá guiá-la até lá.”.

 


Elisangela agradeceu a bondade e gentileza da Amiga e voou até encontrar Luciana. Sem perder um só minuto, Luciana levantou a mão esquerda e fez com que um clarão se desprendesse dela, e espirais de pedras apareceram para mostrar o caminho que Elisangela deveria seguir. Confiante, Luciana fechou os olhos; e, quando o clarão desapareceu, deixou um rastro atrás de si: um mapa que Luciana entregou a Elisangela.


 

Muito agradecida, Elisangela abriu as asas e levantou voo, carregando sempre o seu precioso tesouro: Bolinha. Ela demorou dias para seguir as indicações do mapa, porque se atrapalhava e errou o caminho várias vezes. Finalmente lá estava ela: a Floresta dos Pássaros Estranhos. E como eram realmente estranhos aqueles pássaros!... Dentre eles, havia um que era mais belo e majestoso do que os outros. Aproximando-se dele, ela perguntou: “Por que vocês são tão diferentes dos outros pássaros?!...”. Fitando os olhos de Elisangela, o Pássaro respondeu: “Somos o que somos. Cada um é o que é e não deveria se comparar a ninguém. Você também não é igual à Letícia e, também, não é igual às outras Fadas que a ajudaram a chegar até aqui. A propósito, você não está sozinha... Trouxe a minha Noiva consigo, e eu lhe serei sempre grato. Pode pedir o que desejar.”.

 


Confusa, Elisangela perguntou: “Que história é essa?!... Bolinha não é sua noiva!... É minha ave de estimação!... Estamos sempre juntas!...”. O Pássaro respondeu sorrindo: “Muito em breve, você conhecerá Alguém que lhe fará companhia por toda a eternidade. E eu posso lhe garantir que não será uma ave. Será um Jovem que possui o olhar doce e afetuoso como o seu. Eu prometo que cuidarei bem de Belinha.”.

 

Com lágrimas nos olhos, Elisangela corrigiu o Pássaro: “O nome dela não é Belinha... É Bolinha.”. Olhando ternamente para Elisangela, o Pássaro respondeu: “Eu sou o Rei desta Floresta, e Belinha será minha Rainha. No mesmo instante em que você partir, o encantamento de Letícia será quebrado, e Belinha voltará a ser o Pássaro alegre que sempre foi e trará muita felicidade ao meu Reino e a este meu coração solitário. Feche os olhos. Quando você tornar a abri-los, estará na sua Floresta, diante do seu Amor Eterno. Seja feliz!...”.

 

Ainda chorando, Elisangela endereçou um último olhar a Belinha, contemplou o semblante apaixonado do Pássaro, fechou os olhos e desapareceu.

 

Sisi Marques


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FLORINA E O DESAPARECIMENTO DAS FLORES



Era uma vez uma fada que se zangava com os animaizinhos quando eles estragavam as flores. Ela se chamava Florina e adora ver as flores desabrocharem ao seu redor.

Certo dia, ela se afastou do campo florido onde morava para colher algumas flores bem pequenas que chamaram sua atenção. Florina tencionava dedicar-se ao cultivo daquelas flores para que elas se tornassem mais perfumadas e vistosas. Ela se sentia muito feliz enquanto voava de volta para casa. Mas, quando ela avistou o campo, a decepção abraçou-a tão fortemente que ela pensou que fosse sufocar...




Florina não conseguia acreditar no que os seus olhos viam: apenas três flores!... Havia apenas três flores no campo!... Ela balançava tristemente a cabeça para os lados, perguntando-se que animaizinhos poderiam ter feito as flores desaparecerem!... Ela pensou, pensou e teria continuado ali, parada em cima daquela flor, se uma voz interior não tivesse dito: “Voe e descubra!...”.

Seguindo a voz da intuição, Florina parava para conversar, com todos que encontrava, em busca de respostas. Ela já estava quase desistindo de descobrir o responsável pelo desaparecimento das flores quando Felícia, a fada que gostava de dançar, sugeriu: “Pergunte à fada Azulínea. Ela passou por mim e nem me cumprimentou. O que já era de se esperar... Mas o que me chamou a atenção foi a expressão em seu rosto... Ela parecia determinada a realizar algo, e eu não tive a coragem de perguntar o que era.”.




Terrivelmente preocupada, Florina, enquanto voava, perguntava a si mesma: “Por que não me lembrei dos feitiços de Azulínea?!... Ela deve ter se apaixonado novamente e necessitará de uma quantidade enorme de pétalas para fabricar um vidro daquele seu perfume que escravizaria até mesmo um rei a seus caprichos.  Pelo menos é isso o que ela costuma dizer, mas a quantidade de pétalas nunca foi suficiente para produzir o perfume. Preciso detê-la... Felícia disse que ela parecia determinada. Como poderei deter Azulínea?!...”.

Florina esqueceu-se de tudo, inclusive da pergunta que havia feito, no momento em que se deparou com uma visão inesperada: Azulínea voava sobre um amontoado de folhas e, dizendo palavras mágicas, ela entregava à terra as pétalas que havia retirado das flores. O campo certamente voltaria a florir, mas a aridez no coração de Azulínea tornar-se-ia ainda mais amarga. 






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HUMANOS EXISTEM






Juliana, uma fada que gostava muito de dar asas à sua imaginação, certo dia perguntou a sua mãe: “Humanos existem?”. Sua mãe respondeu: “Não, Filhinha... Felizmente, eles não existem. Se eles existissem, toda a beleza que há no nosso mundo já teria desaparecido.”.

Pensativa, Juliana comentou: “Eu li várias histórias sobre os humanos. Naturalmente eles não poderiam viver no nosso mundo... Mas é bem provável que eles existam em outra dimensão.   Na semana passada, eu estava distraída contemplando as flores e, de repente, ouvi uma voz estranha. Eu voei na direção da voz para descobrir de quem era e vi uma pessoa sentada à margem do lago. Não adianta, Mãezinha, você dizer que eu não vi aquele rapaz, porque eu tenho a certeza de que o vi... E também ouvi sua voz melodiosa. Ele cantava uma canção de amor. Ele também me viu e continuou cantando... Eu senti que ele receava que eu desaparecesse no instante em que ele parasse de cantar.  A dimensão dos humanos existe, e ela entrou em contato com a nossa por alguns minutos. O lago e a paisagem ao redor, embora fossem os mesmos, pareciam desbotados. As cores do nosso mundo têm mais vida e brilho. Talvez seja por esse motivo que a realidade dos humanos seja tão sombria. Se pudéssemos visitá-los e levar mais beleza àquele mundo!...”.

Zangada, a mãe de Juliana advertiu: “Nem pense nisso, Juliana!... Esqueça essas histórias que nada têm a ver com a realidade e só servem para encher as cabecinhas vazias, como a sua, de fantasia!... Você não viu aquele rapaz... Você dormiu e sonhou!... Depois acordou, continuou pensando no sonho e confundiu a fantasia com a realidade!... Você se casará um dia, mas será com a fada ou o elfo que o seu pai escolher.”.

Juliana murmurou tristemente: “Eu disse, Mãe, que vi um humano... Eu não disse que havia me apaixonado e que desejava me casar com ele.”. A mãe de Juliana preferiu calar-se a prolongar o assunto.

Na semana seguinte, o pai de Juliana surpreendeu a esposa chorando, e ficou muito triste quando ela revelou: “Juliana partiu. A dimensão dos humanos abriu-se para ela, e nós nunca mais conseguiremos vê-la.”. Para suavizar a dor da esposa, ele disse: “Talvez, um dia, aquela realidade também se descortine para nós, e possamos contemplar a felicidade de Juliana.”.  



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SAMIRA, O PRÍNCIPE E A MÁSCARA DE CORUJA





Samira, a filha da bruxa da floresta, não tirava os olhos do espelho mágico pendurado na parede de seu quarto. Seu pensamento parecia vagar em algum lugar distante enquanto sua mãe dizia: “Desista, Samira, porque, todas as vezes que você me pedir para desfazer o encanto, a resposta será sempre a mesma: NÃO.”.

Samira daria tudo para ver o rosto de seu amado príncipe livre daquela máscara de coruja!... Por que ele disparou uma flecha em Corumira, a coruja de estimação de sua mãe?!... Felizmente ela não morreu, mas sua mãe ficou tão furiosa que pronunciou as palavras mágicas que condenariam o príncipe a usar aquela máscara de coruja até que uma jovem o beijasse.

Cansada de contemplar o sofrimento do príncipe em seu espelho mágico, certo dia, Samira tomou uma decisão: Mesmo que sua mãe nunca a perdoasse, ela fugiria e libertaria o príncipe. Usando seus poderes mágicos, ela desapareceu no ar e, minutos depois, reapareceu na estrada que conduzia ao castelo.  Logo, lá estava ela conversando com os guardas. A única pergunta que eles lhe fizeram foi: “Você deseja se casar com Sua Alteza mesmo sabendo que o rosto dele se assemelha ao rosto de uma coruja?”.

Ela respondeu afirmativamente, e eles trouxeram os papéis que formalizavam o casamento. Quando Samira encontrou-se com o príncipe, ele comentou: “Eu a conheço... Você é a filha da mulher que me reduziu a este estado!... Eu me apaixonei por você no momento em que a vi e atirei na coruja porque desejava impressioná-la. Se quase matei a pobre ave, não foi por maldade e sim por estupidez, porque a filha de uma bruxa não se deixaria impressionar tão facilmente. Por que veio?”.

Samira respondeu: “Porque também me apaixonei por você. O feitiço será quebrado no momento em que nos beijarmos.”. O príncipe afirmou: “Você tem pena de mim e gostaria de reparar o erro de sua mãe. Perdeu o seu tempo vindo até aqui, porque eu jamais me casaria com a filha da mulher que me reduziu a este estado. Vá embora ou eu mandarei prendê-la no calabouço. Você só sairá da prisão no dia em que resolver partir.”.

Samira não quis partir... Ela preferiu ir para a prisão. Os dias passavam lentamente, e ela cantava para afugentar a tristeza e a solidão. O príncipe, de seu quarto, ouvia o canto de Samira, e o seu coração desejava fugir de seu peito para viver ao lado dela. Ele a amava perdidamente e logo compreendeu a insensatez que fizera.

Não conseguindo mais suportar a saudade, o príncipe foi visitá-la no calabouço. Ele disse: “Esta é sua última oportunidade: se não partir agora, ficará presa para sempre.”. Samira, contemplando a máscara de coruja que o príncipe ainda usava, mergulhou em seus olhos antes de dizer: “Esta prisão será o meu lar enquanto eu viver.”.

Retribuindo o olhar apaixonado que Samira lhe enviara, o príncipe disse: “Este castelo será o seu lar, porque você é a minha rainha. Consegue me perdoar?!...”. Ela sorriu, e ele a beijou. Quando os dois deixaram o calabouço, o jovem príncipe já havia se libertado da horrenda máscara de coruja.